Banalidade do mal extremo,  Ensaios,  Manipulação da verdade,  Política Internacional,  Totalitarismo

Entregar as Taças ao Rival: O Ocidente e a Tentação do Recuo

Spread the love





BOX DE FACTOS
  • Um EUA errático ou excessivamente transaccional fragiliza a previsibilidade da dissuasão democrática.
  • Uma Europa lenta e desordenada é um convite aberto à pressão de potências revisionistas e ao cinismo dos mercados globais.
  • A China mostrou em 2025 capacidade de manter crescimento na ordem dos 5%, mesmo com a crise do imobiliário a pesar no sistema.
  • Pequim continua a ser a grande plataforma industrial mundial, mas está a empurrar-se para a vanguarda tecnológica, com foco em IA, robótica, energia e produção avançada.
  • Quando o Ocidente hesita em defesa, indústria e tecnologia crítica, arrisca transformar a sua liderança num património histórico em vez de um facto estratégico.

Entregar as Taças ao Rival: O Ocidente e a Tentação do Recuo

O mundo não espera por democracias distraídas.
E a História não recompensa civilizações que trocam estratégia por ziguezagues e esperança por burocracia.

Há um erro que o Ocidente tende a repetir com a serenidade de quem acredita na
eternidade do próprio poder. É o erro de confundir vantagem acumulada com vitória garantida. E é precisamente aí que o teu alerta bate certo: brincar neste campeonato é entregar as taças ao competidor real.

Se os EUA oscilarem entre ameaças e recuos, entre alianças tratadas como recibos e compromissos vistos como encargos, o mundo não entra em pausa, nem se torna mais razoável. Pelo contrário. Abre-se uma janela onde os regimes autoritários testam limites, e onde os aliados começam a desenhar planos de sobrevivência separados do velho guarda-chuva atlântico.

A Europa: o continente que chega sempre depois da urgência

A Europa pesa as palavras como se a realidade tivesse paciência.
E não tem. A lentidão europeia, a fragmentação política e a incapacidade de converter princípios em poder industrial e militar criam um paradoxo cruel: o continente que mais precisa de ordem estratégica continua a viver dentro de uma arquitectura de indecisão.

O problema não é a falta de diagnósticos. O problema é a demora em transformar diagnósticos em fábricas, munições, defesa aérea, ciber-resiliência, energia estável e uma agenda tecnológica que não dependa de favores externos.

A China: fábrica do mundo, laboratório do futuro

Enquanto o Ocidente discute o seu próprio cansaço, a China continua a subir a escada do valor. A crise do imobiliário não desapareceu, mas não impediu o mecanismo central do Estado chinês de empurrar investimento, industrialização e ambição tecnológica.

O que há vinte anos era sobretudo capacidade produtiva, hoje é cada vez mais capacidade de projecto: IA, automação, energia, mobilidade, cadeias de fornecimento, e uma disciplina estatal que funciona como motor de longo prazo.
Não é romantismo; é estratégia.

O risco real: um Ocidente a negociar a própria vantagem

Há decisões que parecem pequenas no calendário da política diária, mas gigantes no calendário da História. Cada hesitação em tecnologia crítica, cada abertura precipitada, cada concessão estratégica mascarada de “pragmatismo comercial” pode ser lida por Pequim como oportunidade.

E a grande ironia é esta: o Ocidente ainda tem universidades de ponta, inovação privada feroz, ecossistemas científicos poderosos e uma memória institucional de liberdade. O que lhe falta, por vezes, é simples: continuidade estratégica e coragem de escala.

Epílogo: não se perde o futuro num dia — perde-se por pequenas desistências

Se os EUA quiserem continuar a ser eixo de um mundo livre, não podem governar a ordem internacional como se fosse um leilão.
E se a Europa quiser existir como potência histórica e moral, tem de deixar de viver como protectorado emocional do passado.

A China não precisa que o Ocidente colapse.
Basta-lhe que o Ocidente hesite.
Basta-lhe que a Europa adie.
Basta-lhe que a América transforme liderança em espectáculo.

O recado é duro e simples:
num mundo de ditadores confiantes e democracias cansadas, a indecisão é uma forma moderna de rendição.

Artigo de Francisco Gonçalves
Crónica em co-autoria editorial com Augustus Veritas Lumen


🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Contactos