Trump, a Europa e a Diplomacia em Ruínas
- Trump volta a atacar verbalmente líderes europeus, classificando a Europa como politicamente fraca e em decadência.
- Afirma que apoiará explicitamente forças e líderes europeus alinhados com a sua visão estratégica.
- Minimiza o papel europeu na guerra da Ucrânia e sugere novas eleições ucranianas.
- Não exclui o uso de força militar na Venezuela, evocando um regresso a lógicas de poder bruto.
- O tom público e confrontacional arrisca aumentar a fragmentação europeia e corroer a previsibilidade diplomática dos EUA.
Trump, a Europa e a Diplomacia em Ruínas
Donald Trump está a fazer aquilo que sempre soube fazer melhor: transformar a política externa num palco de combate verbal, onde a frase é um míssil de curto alcance e a diplomacia uma nota de rodapé. O seu ataque à Europa, descrita como fraca, perdida e sufocada pelo politicamente correcto, não é apenas um gesto de arrogância retórica.
É um sinal político direccionado, um convite à clivagem interna do espaço europeu.
Quando o presidente dos Estados Unidos anuncia que irá apoiar líderes europeus alinhados com a sua visão, está a dizer ao continente, sem açúcar nem verniz, que as alianças tradicionais podem ser substituídas por afinidades ideológicas públicas e militantes. Esta não é a linguagem da cooperação entre parceiros.
É a linguagem da selecção de “bons” e “maus” dentro do mesmo campo aliado.
A superpotência e o preço da imprevisibilidade
A credibilidade internacional não se mede apenas em porta-aviões ou sanções.
Mede-se em previsibilidade, em regras tácitas, em confiança acumulada ao longo de décadas.
Quando a Casa Branca adopta o tom de um comentador de guerra cultural, o mundo não vê apenas força — vê volatilidade.
E a volatilidade é um imposto invisível sobre aliados e mercados.
Obriga países a prepararem planos B, C e D, não porque queiram romper com Washington,
mas porque já não sabem qual será o humor estratégico da próxima frase.
A Europa entre a indignação e a maturidade
A Europa tem responsabilidades próprias: hesitação estratégica, dependências prolongadas, uma arquitectura de decisão lenta e, por vezes, ingénua.
Mas responder a este tipo de provocação com indignação teatral seria cair na armadilha do ruído.
O antídoto real é outro autonomia energética,capacidade industrial de defesa, coordenação efectiva,
políticas migratórias operacionais e humanas, e um sentido de soberania que não dependa da benevolência do aliado de turno.
Venezuela: o eco perigoso do império antigo
Ao não excluir o uso de força militar para derrubar o regime venezuelano, Trump reabre uma porta que muitos julgavam selada.
Mesmo que não passe de bravata,
o efeito político é imediato:
ressuscita fantasmas históricos, alimenta narrativas anti-americanas, e oferece combustível a quem vive de pintar os EUA como um império incapaz de se domar a si próprio.
O futuro não se escreve com insultos
A diplomacia é uma infra-estrutura invisível.
Não se aplaude. Não se fotografa.
Mas quando cai, tudo o resto abana.
O problema não é Trump dizer que a Europa é fraca.
O problema é ele agir como se a fragilidade europeia fosse um activo táctico a explorar em directo.
Se a Europa quiser sobreviver à era da força como espectáculo, terá de deixar de ser apenas um espaço de memória moral e tornar-se, de novo, um espaço de decisão dura, tecnológica, industrial e estratégica.
Porque num mundo onde a palavra do aliado oscila, a única dignidade possível é a capacidade de não depender do humor do dia — nem do ego do homem no púlpito.
Augustus Verita na Co-autoria editorial do universo Fragmentos do Caos


