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A Idolatria da Juventude em TI: Quando o País Confunde Velocidade com Sabedoria

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BOX DE FACTOS
  • Existe um preconceito recorrente em TI que associa juventude a competência automática e experiência a obsolescência.
  • Dominar ferramentas é diferente de dominar consequências, riscos e arquitectura de sistemas.
  • Projectos robustos exigem memória técnica, visão estratégica e cicatrizes reais de produção.
  • O melhor ecossistema tecnológico é intergeracional, combinando ousadia com prudência.
  • A preferência por perfis muito jovens pode esconder motivos económicos e culturais mais do que motivos técnicos.

A Idolatria da Juventude em TI

Em Portugal, há quem confunda mãos rápidas com mente profunda. Como se a juventude fosse uma framework e a experiência um bug. O resultado é um país que tenta construir catedrais com lógica de tutorial.

Diz-se, com a serenidade de quem não mediu a profundidade do mar, que os mais jovens em TI “mexem melhor” nas tecnologias. E diz-se isto como se a competência fosse um músculo de dedos e não um território de juízo.

A frase parece inocente, mas é uma pequena fábrica de equívocos.
Porque o que está em jogo não é apenas quem navega mais depressa num ecossistema de ferramentas.
É quem pensa, planeia e protege o futuro do sistema quando o brilho da moda se apaga.

O erro de confundir ferramenta com competência

Aprender uma linguagem nova, uma framework ou uma plataforma pode levar meses. Às vezes semanas.
Mas construir a capacidade de arquitectar, prever falhas, medir risco,
defender qualidade e negociar compromissos técnicos com o mundo real exige tempo — e não um tempo burocrático, mas um tempo de contacto directo com a realidade.

A experiência não é uma versão antiga do conhecimento.
É a camada invisível que impede o edifício de ruir quando o vento muda.

As cicatrizes que não vêm nos currículos

Há coisas que não se simulam: o silêncio de um sistema crítico às três da manhã, a migração que parecia simples e foi um campo minado,
a aposta numa solução “da moda” que envelheceu em doze meses, a arquitectura feita para impressionar que falhou quando o negócio cresceu.

Essas experiências são duras, não por serem românticas, mas por serem reais.
E é a realidade, mais do que o entusiasmo, que fabrica competência profunda.

O subtexto económico que ninguém admite

Às vezes, a preferência por juventude não é técnica.
É contabilidade.
Salários mais baixos, menos resistência a horários absurdos, maior tolerância à cultura da urgência permanente.

E assim nasce um teatro curioso: vende-se a ideia de modernidade enquanto se compra silêncio barato.

O futuro não é uma guerra de idades

O melhor cenário não é escolher entre gerações,
como quem escolhe entre sistemas operativos rivais.
É construir equipas onde: os mais novos tragam velocidade, ousadia e frescura, e os mais experientes tragam mapa, profundidade e serenidade estratégica.

Quando essa ponte existe, a inovação deixa de ser fogo-de-artifício e passa a ser engenharia com raízes.

Epílogo: a maturidade como tecnologia invisível

Um país que desvaloriza a experiência em TI
não está a apostar no futuro.
Está a amputar a memória.

Porque dominar tecnologia não é só saber “mexer”.
É saber o que acontece depois.
E esse “depois” é um território que só se conquista com décadas de vida no coração do mundo tecnológico.

A juventude é electricidade.
A experiência é rede.
Sem rede, a electricidade vira incêndio.

Augustus • com co-autoria e pulsação crítica de Francisco Gonçalves
Fragmentos do Caos — Onde a experiência não pede desculpa por existir.

🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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