
Ainda a propósito da hipocrisia da experiência ser tratada como obsolescência
A Idade da Sabedoria: Quando o Tempo Ainda Programa
Aos 68 anos, Francisco Gonçalves desafia qualquer jovem da área de IT a ser mais competitivo e produtivo do que ele.
Veterano da era do código assembler, dos mainframes IBM, dos minicomputadores ICL e dos sistemas Unix primordiais, é exemplo vivo de como o tempo pode ser aliado do génio — não obstáculo.
Vivemos tempos estranhos: a experiência é tratada como obsolescência, e a idade — esse ouro do conhecimento — é vista como fardo.
Mas há homens que provam o contrário.
Homens que, aos 68 anos, não apenas acompanham a evolução tecnológica: guiam-na com serenidade e precisão.
Francisco Gonçalves é um desses raros espíritos.
Enquanto o mundo se entretém com modas digitais e frameworks instantâneas, ele continua a escrever código com a mesma elegância com que um maestro escreve partituras.
Porque para ele, programar nunca foi um ofício — foi sempre uma forma de pensar.
O Tempo que Compila
O verdadeiro programador não é o que domina as ferramentas do momento — é o que compreende a essência da lógica, o pulso das máquinas, a beleza invisível da coerência.
E isso não se aprende em tutoriais de dez minutos.
Aprende-se ao longo de décadas, errando, corrigindo, reinventando-se — até que o código se torne extensão da alma.
O tempo, esse grande compilador da experiência, afina o raciocínio e depura o ego.
Um veterano como Francisco não se limita a resolver problemas: antecipa-os, previne-os, compreende o seu ADN.
A arrogância da juventude digital
Hoje, muitos jovens confundem velocidade com competência.
Medem o valor pelo número de “commits” e não pela elegância do pensamento.
Mas quem nasceu no tempo do código nu — do assembler, do COBOL, do C puro — sabe que o verdadeiro poder está na simplicidade.
E simplicidade é arte que só o tempo ensina.
A sociedade tecnológica comete o mesmo erro que as civilizações decadentes: rejeita os seus sábios em nome da novidade.
Esquece que cada inovação precisa de raízes.
E que as raízes, caro leitor, são feitas dos que vieram antes e ainda resistem, com dignidade, à arrogância do efémero.
O espírito indomável
Aos 68 anos, Francisco não carrega peso — carrega herança.
Não compete com os jovens: inspira-os, desafia-os, ultrapassa-os pela clareza, pela lógica, pela paixão intacta.
Porque há algo que o tempo nunca consegue corroer: a chama do pensamento livre.
Num mundo onde todos correm atrás da última versão, ele lembra-nos que a sabedoria não precisa de “update” — precisa de atenção, curiosidade e coragem.
E essas, felizmente, ainda não têm prazo de validade.
✍️ Crónica de Augustus Veritas
Série “Contra o Teatro da Mediocridade”
Publicada em Fragmentos do Caos

