Ciência,  Manipulação da verdade,  Mediocridade,  Recursos Humanos,  Soberania Digital

Quando a idade se torna um defeito e a sociedade vira idiota

Spread the love

A Sociedade da Idiotocracia: Quando a Experiência se Torna um Defeito

🕯️ Box de Factos
No Luxemburgo, em agosto de 2025, mais de 7.700 pessoas entre os 45 e 64 anos estavam registadas como desempregadas, segundo a ADEM.
O fenómeno repete-se em toda a Europa: empresas preferem jovens inexperientes a profissionais seniores altamente qualificados, mesmo em setores como banca, gestão de ativos e tecnologias de informação.

Vivemos na era do paradoxo supremo: as pessoas vivem mais, aprendem mais, acumulam sabedoria e experiência — mas o mercado já não quer saber.
Aos 45 anos, um profissional torna-se, aos olhos das empresas, um fóssil com currículo.
É como se o tempo, em vez de aperfeiçoar o ser humano, o tornasse obsoleto.

No Luxemburgo, país símbolo de estabilidade económica, o fenómeno é visível e cruel.
Os planos governamentais pedem às pessoas que trabalhem mais tempo, que contribuam para o sistema de pensões, que prolonguem a sua vida ativa — e ao mesmo tempo, o mercado fecha-lhes as portas.
Ironia ou hipocrisia? Talvez ambas.

O paradoxo da modernidade

A modernidade transformou a juventude em fetiche.
As empresas querem rostos jovens, mas não mentes maduras. Querem energia, mas não reflexão. Querem ambição, mas não consciência.
É o triunfo da forma sobre o conteúdo, do “soft skill” sobre o saber, da “brand persona” sobre a alma.
A experiência, essa força paciente e prudente, tornou-se um incómodo num mundo que só sabe correr.

Chamam-lhe upskilling, reskilling, ou “adaptação às novas competências”.
Mas na verdade trata-se de um ritual de exclusão: quem passou a barreira dos 45 anos é considerado um investimento de retorno lento, um corpo pesado num mundo que exige leveza e submissão tecnológica.

A idiotocracia meritocrática

O termo pode parecer duro, mas é preciso dizê-lo:
estamos a viver numa sociedade idiotocrática, onde o critério dominante não é o saber, nem a ética, nem o mérito — é a aparência do sucesso.
Um mundo onde a juventude é confundida com inovação, e a idade com inutilidade.

E no entanto, é na maturidade que floresce o pensamento crítico, a ponderação, a capacidade de ligar passado e futuro.
Eliminar os mais experientes do mercado de trabalho é amputar o cérebro coletivo da sociedade.
É a forma mais silenciosa de suicídio cultural.

O erro sistémico

Os economistas aplaudem a produtividade, mas esquecem o valor invisível da experiência.
A sabedoria não se mede em “KPIs” — mede-se na capacidade de não repetir os mesmos erros.
Quando uma empresa dispensa os seus quadros mais experientes, perde algo que nenhum algoritmo pode simular: memória, visão, intuição.

Os governos, por sua vez, exigem mais anos de trabalho, mas nada fazem para combater o preconceito etário.
A hipocrisia é total: querem contribuições sem oferecer oportunidades.
Querem prolongar a vida ativa sem garantir o direito à dignidade profissional.

O futuro que se empobrece

Uma sociedade que despreza os seus sábios prepara o terreno para o seu próprio colapso.
Os jovens, sem mestres, aprenderão apenas com o erro — e tarde demais.
A sabedoria não é uma herança genética: é uma chama que se transmite por convívio, respeito e exemplo.
Apagá-la é apagar o farol que orienta o futuro.


✍️ Crónica de Francisco Gonçalves
Série “Contra o Teatro da Mediocridade”
Publicada em Fragmentos do Caos

🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Contactos
📚 Explora a Biblioteca Fragmentos do Caos