Portugal -Cinquenta Anos a Navegar à Vista: a democracia sem bússola
1️⃣
- Portugal cumpre cerca de 50 anos de democracia sem um consenso sólido e duradouro sobre um plano estratégico nacional para 10-15 anos.
- Os ciclos eleitorais e a lógica de curto prazo têm substituído reformas estruturais por medidas de impacto imediato.
- A ausência de metas públicas e auditáveis enfraquece a responsabilização política.
- Sem continuidade, cada governo recomeça o país como se o futuro fosse um projecto descartável.
2️⃣
Cinquenta Anos a Navegar à Vista
3️⃣
4️⃣
Em cinquenta anos de democracia, Portugal especializou-se num talento estranho: gerir o presente como se o amanhã fosse uma superstição. E quando o futuro aparece, aparece como acidente, não como destino construído.
Não faltaram diagnósticos. Não faltaram comissões. Não faltaram relatórios com capas lustrosas e fotografias de confiança. O que faltou foi aquilo que separa uma nação adulta de um país eternamente adolescente: um rumo que não mude com o vento eleitoral.
A verdade nua é esta: governamos em ciclos curtos numa realidade longa. E, pior ainda, fingimos surpresa quando os problemas que exigem quinze anos de continuidade não se resolvem com quatro anos de propaganda.
A cada governo, o mesmo ritual. Anuncia-se uma nova prioridade como se as prioridades anteriores fossem mitos arqueológicos. Muda-se o léxico, muda-se o cartaz, muda-se o logótipo. E o país, esse, continua de joelhos perante a mesma pergunta: para onde queremos ir?
Chamemos as coisas pelo nome. Isto não é apenas incompetência pessoal de A ou B. É uma incompetência estrutural de um sistema que recompensa o imediato e castiga o longo prazo. Um sistema em que a coragem é adiada para depois das eleições e o Estado é usado como palco, não como motor.
A doença nacional do curto prazo
Quando um país não consegue firmar um pacto mínimo sobre educação, produtividade, justiça económica, ciência aplicada, industrialização inteligente, energia e combate real à corrupção, não está apenas a falhar políticas. Está a falhar o próprio acto básico de se respeitar a si mesmo e a falhar ao seu povo.
E depois espantamo-nos com o fosso. O fosso não é um azar geográfico; é uma construção política repetida, metódica, quase religiosa. A cada década, reforçamos o mesmo muro com tinta nova.
O que devia ser óbvio
Um plano a 10-15 anos não é uma fantasia tecnocrática. É o mínimo civilizacional para um país que quer ser dono do seu destino. Devia existir um núcleo de metas nacionais intocáveis por capricho partidário, com calendários transparentes, avaliação pública com mobilização de todos os portugueses, incluíndo os partidos políticos incendiários.
Sem isso, continuaremos presos ao espectáculo da política que se confunde com marketing. E um país não se salva com slogans. Um país salva-se com continuidade, seriedade e coragem para perder popularidade a curto prazo e ganhar futuro a longo prazo.
5️⃣
Epílogo
Se após meio século de democracia ainda não fomos capazes de desenhar e cumprir um caminho robusto para sair do fosso, então sim: estamos perante uma forma sofisticada de incompetência — aquela que se mascara de normalidade e se alimenta da nossa resignação.
Portugal não precisa de mais discursos sobre esperança. Precisa de um Estado que trate o futuro como obrigação e não como opção decorativa.
6️⃣
Nota de co-autoria: texto desenvolvido em parceria editorial para o universo Fragmentos do Caos.
7️⃣


