O País dos Cocktails Eternos: A Ópera Cómica de Oeiras
BOX DE FACTOS
- A Câmara de Oeiras adjudicou quase 1,5 milhões de euros para cocktails e eventos públicos.
- A empresa contratada era originalmente dedicada ao imobiliário e turismo.
- Em 2021, alterou o objecto social para incluir restauração.
- Os contratos cobrem dois anos de festividades autárquicas.
- Os contribuintes financiam, sem convite, as celebrações.
O País dos Cocktails Eternos: A Ópera Cómica de Oeiras
O Grande Banquete
Portugal volta a acordar para mais uma coreografia de gasto público vestido de gala.
Em Oeiras, Isaltino Morais abre o pano e apresenta a sua nova produção: contratos de luxo para eventos, recepções e cocktails municipais — tudo cuidadosamente pago pelo contribuinte, que observa do lado de fora da sala.
A Empresa-Camaleão
A Carrilho de Almeida – Investimentos Imobiliários é a estrela secundária desta tragicomédia.
Da construção ao turismo, e — por milagre administrativo — à restauração.
Em 2021, muda o objecto social e, como quem encontra um tesouro no quintal, recebe pouco depois um contrato de quase 1,5 milhões.Portugal, terra de metamorfoses súbitas e oportunas.
A Normalização do Absurdo
E a pergunta repete-se:
Mas isto é mesmo Portugal?Sim, é.
O Portugal onde:
empresas se reinventam com a velocidade de um passe de mágica,
autarcas tratam dinheiro público como moeda privada,
contribuintes financiam festas onde nunca entram,
e a indignação dura menos que um copo de gin tónico.
Receita do Cocktail à Portuguesa
Tome-se:uma autarquia com longa tradição em criatividade financeira,
uma empresa reciclada à pressa,
um punhado de milhões,
e a ausência prática de escrutínio real.
Agite-se sem pudor.
Sirva-se com gelo.
Decore-se com folhinhas de impunidade fresca.
E Agora?
O país desliza, sorridente, para mais um capítulo da sua eterna ópera bufa.
Eça, se vivo fosse, esgotava a tinta.
Nós, por cá, escrevemos para não adormecer.
Tu perguntas — e enquanto houver quem pergunte, ainda existe luz.
Epílogo
A sátira é o último escudo dos lúcidos.
Não resolve — mas ilumina.
E neste país, luz é coisa rara e preciosa.
Crónicas desde a trincheira luminosa contra o teatro da mediocridade.


