O Santinho de Pau Carunchoso: António Costa em Modo Vítima de Luxo
BOX DE FACTOS
- António Costa afirma que o comunicado da PGR não tinha fundamento.
- A narrativa pública tenta reposicionar Costa como vítima política.
- A erosão moral das últimas décadas não desaparece com declarações tardias.
- O caso expõe fragilidades profundas na ética da governação portuguesa.
- A manipulação da opinião pública tornou-se ferramenta recorrente.
O Santinho de Pau Carunchoso: António Costa em Modo Vítima de Luxo
A arte de fingir que nada foi nada
Há momentos em que a política portuguesa parece escrita por um guionista de tragédia cómica.
António Costa, hábil como poucos, regressa agora ao palco com a pose de homem traído pelo destino, injustiçado pela Procuradoria-Geral da República, e vítima de um comunicado que — segundo ele — “não tinha fundamento”.
Mas a memória do país não é tão curta quanto ele gostaria.
E o caruncho moral não desaparece com um discurso elegante nem com uma expressão compassiva.
Costa quer fazer-nos acreditar que houve apenas um equívoco institucional.
Como se o comunicado da PGR tivesse inventado suspeitas que não existiam, como se a sua governação tivesse sido um templo de pureza ética,
como se o país não tivesse afundado em redes de influência, contratos opacos, tachos reluzentes e planos vigaristas de Estado.
A construção do santo padroeiro da inocência pública
A estratégia é velha:
quando o cerco aperta, inverte-se a narrativa.
Costa, que sempre dominou o teatro político, sabe mover-se como poucos:
– veste-se de vítima moral,
– assume o papel de injustiçado sereno,
– culpa a comunicação oficial,
– e escapa por entre as ruínas que ajudou a erguer.
O actor é competente.
O guião, esse, está gasto.
O problema não é o comunicado da PGR —
é a erosão ética que antecedeu o comunicado,
o ambiente permissivo que cresceu nos bastidores,
e a complacência sistemática com a teia de interesses que o rodeava.
O país entende, mesmo que finge não entender
Portugal é perito em reciclar políticos falhados.
Há sempre espaço para redenção,
para a vitimização conveniente,
para a piedade mediática que lava consciências e ressuscita carreiras.
Mas a verdade crua é esta:
ninguém chega ao topo do pântano sem saber nadar no lodo.
Costa pode contar a história que quiser —
mas o país viveu oito anos de estagnação, compadrio, negócios suspeitos, e um Estado cada vez mais capturado por interesses privados.
E isso não se apaga com um ataque à PGR.
O silêncio cúmplice é a pior pandemia nacional
A política portuguesa está há décadas numa lenta decomposição moral.
O poder tornou-se um instrumento de ascensão pessoal, o Estado um banquete para bem instalados, e a verdade uma variável maleável conforme a conveniência.
Costa, ao atacar a PGR, não se defende — compromete ainda mais a confiança pública.
E expõe aquilo que sempre foi evidente:
que a política nacional vive de personagens que se acham intocáveis, mesmo quando o país inteiro afunda.
O país não precisa de mártires reciclados — precisa de verdade, coragem e rupturas.
E enquanto figuras como Costa regressarem com ares de santidade, a decadência continuará a ser o nosso hino nacional.
num acto de lucidez crítica contra o teatro da mediocridade.


