“Portugal OE 2026: O Último da Fila Europeia”

🇵🇹 OE 2026: O País Que Cumpre Contas, Mas Não Cumpre Destinos
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen · SofteLabs / Fragmentos do Caos
O Orçamento de Estado 2026 é o espelho de uma governação que prefere a previsibilidade à coragem, a contabilidade à criação, a obediência a Bruxelas à imaginação nacional.
É um orçamento que respira técnica, mas carece de alma — um país em modo de sobrevivência, que cumpre metas mas esquece o seu destino.
Cumpre-se o défice, mas adia-se o futuro.
1️⃣ Um orçamento de continuidade, não de visão
O Governo apresenta um documento “responsável”, que projeta um excedente de 0,1 % do PIB e uma dívida a 88 %.
O objetivo é agradar a Bruxelas, não transformar Portugal.
O problema é que a estabilidade sem ambição é apenas imobilismo orçamental disfarçado de prudência.
Um país que cumpre a cartilha europeia, mas falha a construção da sua própria narrativa, perde soberania económica e espiritual.
O OE2026 é o retrato de um Estado que respira ar europeu, mas pensa com alma provinciana.
2️⃣ Economia: prudência em vez de estratégia
Crescimento previsto de 2,3 %, inflação em descida, dívida controlada — tudo parece bem, até percebermos que nada muda.
O país continua dependente de turismo e serviços, sem indústria tecnológica sólida nem aposta real em inovação produtiva.
A obsessão pelo equilíbrio orçamental revela medo: medo de errar, medo de sonhar, medo de governar com imaginação.
A contabilidade é o contrário da criação.
3️⃣ Fiscalidade: o labirinto da injustiça
Há uma ligeira redução no IRS e um discurso sobre “alívio fiscal”, mas a verdade é que o sistema continua injusto.
Penaliza o trabalho e poupa o capital improdutivo.
Falta uma estratégia de justiça fiscal ética — taxar de acordo com o mérito e o contributo real para a sociedade.
Nenhuma medida eficaz surge contra a evasão fiscal, a fraude organizada ou a fuga para paraísos fiscais.
É o mesmo velho modelo: taxar quem não pode fugir, e negociar com quem pode.
4️⃣ Estado Social: manutenção mínima
Os aumentos de salários e pensões (3 % e 4,2 %) não compensam a perda de poder de compra.
O investimento em Saúde e Educação é inferior ao crescimento nominal do PIB, e o SNS continua a colapsar lentamente sob a sua própria inércia.
Há mais dinheiro, mas a mesma desorganização. Mais despesa, menos eficiência.
O Estado é um corpo cansado com febre baixa — mantém-se vivo, mas já não tem energia para se erguer.
5️⃣ Habitação: a ferida aberta
Reforço de 33 % no orçamento para habitação pública, quase todo dependente do PRR.
Mas o problema não é o dinheiro — é o modelo.
O Estado continua a subsidiar rendas privadas em vez de criar um parque público robusto, com oferta estável e justa.
Continuamos a financiar o sintoma e a ignorar a doença.
6️⃣ Corrupção e Transparência: o silêncio cúmplice
Nenhuma medida nova. Nenhuma auditoria automática. Nenhum sistema público de rastreio de contratos.
O combate à corrupção é uma promessa ritual, não uma vontade política.
O Estado finge que fiscaliza; os corruptos fingem que se escondem.
Enquanto isso, o país esvai-se em consultadorias inúteis, adjudicações diretas e fundos de gabinete.
A corrupção tornou-se tão natural que já nem escandaliza — apenas anestesia.
7️⃣ Conclusão: o orçamento da sobrevivência
O OE 2026 é um orçamento que não erra, mas também não acerta em nada essencial.
É o orçamento de quem quer sobreviver até ao próximo ciclo eleitoral, não de quem quer mudar a história.
O país precisava de um choque de integridade, inteligência e visão.
Recebeu um relatório contábil sobre o conformismo nacional.
Portugal cumpre as contas, mas não cumpre os sonhos.
Cumpre Bruxelas, mas não cumpre o seu povo.
Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
SofteLabs / Fragmentos do Caos · Outubro 2025


