O Túnel da Loucura: Putin, Trump e o Delírio dos Homens que Brincam com o Mundo

Há ideias que, por si só, dispensam comentário. Mas quando o absurdo atinge o sublime, torna-se irresistível.
O Kremlin anunciou, com pompa e sarcasmo involuntário, um projeto para unir a Rússia aos Estados Unidos por um túnel ferroviário sob o Estreito de Bering —
batizado, sem ironia aparente, de “Túnel Putin–Trump”.
E o empreiteiro dos sonhos: Elon Musk, claro — o homem que prometeu colonizar Marte, mas ainda não conseguiu humanizar o Twitter.

A ideia é apresentada como símbolo de paz e cooperação, mas cheira a tudo menos a inocência.
Putin sonha com impérios eternos; Trump sonha com espelhos; e juntos parecem dispostos a escavar um corredor direto para o inferno geopolítico,
onde o poder é a única divindade e a razão a primeira vítima.

O projeto, dizem, seria “um marco da reconciliação entre as nações”.
Na prática, é um exercício de vaidade diplomática: um túnel entre dois egos, uma ponte de arrogância sobre o abismo moral.
Musk, o alquimista das manchetes, vê nisto uma oportunidade de ouro — não para unir povos, mas para testar a profundidade do ridículo humano.

Enquanto os ditadores sonham e os povos sofrem, a Terra continua a girar sobre o eixo da insensatez.
Fala-se de futuro, mas o futuro é o mesmo de sempre: elites a brincar aos deuses e multidões a pagar o preço da fantasia.
O túnel “Putin–Trump” não será uma obra de engenharia — será um monumento à insanidade partilhada, uma metáfora escavada na crosta do planeta.

Talvez um dia, quando o gelo do Ártico derreter e as águas cobrirem o delírio humano,
apenas reste o eco distante de uma voz metálica a anunciar:
“Senhores passageiros, próxima paragem: o fim da lucidez.”

Por Francisco Gonçalves
Série “Contra o Teatro da Mediocridade”
Publicação em
Fragmentos do Caos