
Disruptive Tradition — a inovação da velha política
Diogo Montenegro, de 20 anos, filho do primeiro-ministro Luís Montenegro, criou a empresa Disruptive Tradition três dias após a eleição do pai, a 21 de Maio de 2025.
Tradição & Disrupção: Quando o poder vira “start-up” familiar
Há algo de poético — ou de patético — no facto de, três dias após a recondução do pai como primeiro-ministro, nascer uma empresa. Luís Montenegro viu surgir à sua sombra a Disruptive Tradition — constituída a 21 de Maio de 2025, com o filho mais novo, Diogo, entre os cinco sócios fundadores. O cronómetro da coincidência bateu recorde.
Nasce uma “start-up” ou renasce uma tradição?
Disruptiva no nome, tradicional no espírito. O que devia cheirar a futuro exala o aroma antigo do compadrio. Enquanto o eleitorado português entregava aos social-democratas mais de 31 % dos votos, após o caso Spinumviva, a família política montava a sua própria incubadora — não de ideias, mas de influência.
“A coincidência temporal é uma dessas ironias que nem Eça ousaria inventar.”
Não é corrupção, dizem; é coincidência. Não é favorecimento, é oportunidade. A semântica é o novo escudo da ética.
Perpetuar é o novo inovar
O poder político gera o económico, o económico sustenta o político — e o ciclo fecha-se com um aperto de mão familiar. A disrupção é apenas cosmética, o verniz sobre a madeira velha da influência. Em Portugal, perpetuar é o novo inovar, e herdar é o novo mérito.
O País dos Relatórios que se Copiam a Si Mesmos
Ah, sim — a cereja no bolo institucional: consultoria.
A arte nobre de dizer o óbvio em sessenta páginas de PowerPoint e cobrar como se fosse revelação divina.
Relatórios que são poemas de copy-paste, reciclados de outros relatórios, de outras consultoras, com os mesmos gráficos e as mesmas promessas de “transformação digital”.
Em Portugal, a consultoria é a alquimia do poder: transforma relações em contratos, influência em lucro e papel em dinheiro público.
O Estado paga para que lhe digam o que já sabe, mas com formatação nova.
O povo paga duas vezes: nos impostos e na ingenuidade.
“Copiar é, entre nós, uma forma subtil de governar: preserva-se o texto e evita-se o pensamento.”
E enquanto isso, as verdadeiras mentes inovadoras continuam fora do circuito, a ver a disrupção ser feita por famílias que nunca precisaram de a inventar — apenas de a herdar.
© 2025 Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

