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Entre a Luz da Ciência e a Sombra da Estagnação

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Portugal: A Ciência que Não se Faz Dinheiro

Box de Factos:

Portugal investe milhões por ano em investigação científica, mas continua sem transformar conhecimento em valor económico real. O país brilha nos relatórios, mas apaga-se nas patentes, nos produtos e nas exportações tecnológicas.

Há um traço trágico e recorrente na nossa história recente: confundimos investigação com inovação, e achamos que o país progride apenas por multiplicar relatórios e congressos. A verdade é bem mais dura. O país do costume quer mais investigação, quando se deveria concentrar nas tecnologias existentes e emergentes — aquelas que já estão maduras e só precisam de aplicação inteligente — para fazer dinheiro, gerar riqueza e independência tecnológica.

O artigo recente publicado no Público levanta a questão com precisão: o Governo devia preocupar-se em valorizar as inovações de base científica já conseguidas, para tirar o máximo partido do investimento já efetuado. Em vez disso, continuamos a financiar projetos que, findo o subsídio, morrem nos servidores das universidades. Os investigadores voltam à estaca zero, as empresas nunca chegam a ver os resultados, e o Estado, com a sua pachorra secular, arquiva mais um programa “pioneiro”.

Da ciência à economia: a ponte que nunca se constrói

Portugal é um país que produz boas ideias, mas não as fabrica. O ecossistema da inovação é, em larga medida, um labirinto administrativo com mil portas e nenhuma saída. Temos doutoramentos de excelência, papers que impressionam revistas internacionais, mas o conhecimento morre antes de chegar ao mercado — ou é vendido a preço de saldo para fora.

Falta-nos o elo fundamental: uma política que una investigadores e empreendedores, que facilite a criação de spin-offs industriais e startups de base científica, que transforme o investimento público em retorno produtivo. A Finlândia, Israel ou a Coreia do Sul já perceberam isso há décadas. Portugal, porém, continua preso ao romantismo do laboratório e à retórica da “ciência de ponta” — mesmo quando essa ponta nunca toca o real.

Inovar não é investigar — é aplicar o que já sabemos

Não há progresso possível quando o país encara a inovação como um exercício de retórica académica. As tecnologias emergentes — IA, robótica, energias limpas, materiais inteligentes, biotecnologia aplicada — já estão aí, à espera de mãos firmes e cabeças práticas. O problema não é falta de conhecimento: é falta de gestão estratégica, de vontade e de visão empresarial que saiba transformar o saber em produto, e o produto em riqueza.

É um paradoxo quase cruel: somos bons a investigar, mas péssimos a explorar o que investigamos. O país tem infraestruturas, mentes e até financiamento europeu, mas falta o espírito empreendedor que transforma conhecimento em poder económico. Falta a audácia de criar, arriscar e vencer. Falta, sobretudo, uma elite política que perceba que ciência sem aplicação é apenas poesia escrita em código binário.

O país das ideias por nascer

Enquanto não formos capazes de transformar as nossas inovações científicas em patentes, produtos e empresas, continuaremos a ser um país de boas intenções e más execuções. É como se tivéssemos uma constelação de estrelas brilhantes — universidades, centros tecnológicos, investigadores de talento — mas nenhuma nave para as alcançar.

Portugal não precisa de mais relatórios sobre inovação; precisa de fábricas de inovação. Precisa de políticas que criem ecossistemas de valorização científica, integrando empresas, investigadores e investidores. Precisa de transformar conhecimento em lucro — e lucro em soberania. Porque um país que não sabe fazer dinheiro com o que sabe, acaba condenado a vender a sua inteligência a quem paga melhor.

“O futuro pertence a quem transforma conhecimento em criação e criação em riqueza. O resto é retórica para relatórios europeus.”

© 2025 Francisco Gonçalves & Augustus Veritas — Série Contra o Teatro da MediocridadeFragmentos do Caos
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Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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