Assalto a "coisa pública",  Corrupção,  Democracia e Sociedade,  Domesticação mentes,  Manipulação da verdade,  Mediocridade,  Nepotismo,  Pedinte da Europa

Ensaio histórico e análise crítica dos 51 anos de um Portugal dito “democrático”

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Entre o Aço e o PowerPoint — 51 Anos de Engano Democrático

Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen — Série Contra o Teatro da Mediocridade

Nota Introdutória:
Este artigo não pretende julgar nem desculpar politicamente ninguém, antes ou depois do 25 de Abril.
Procura apenas deter-se nos factos concretos, alicerçados na realidade económica do país e na sua capacidade produtiva,
contrastando o que foi feito, o que se perdeu e o que se prometeu em nome da modernidade.
É um exercício de memória crítica e de consciência histórica, sem ideologia, mas com verdade.
E um aviso a quem me lerá : Não quero neste pequeno ensaio cair na armadilha do “social”, simplesmente porque qualquer sociedade só poderá ser mais justa, mas redistribuitiva e mais rica, quando a economia produzir riqueza suficiente para tal, mas com ética e principios de sustentabilidade e visão de futuro.

Um país pobre e pouco produtivo só poderá distribuir pobreza e miseria social. Este é o estado a que chegámos, não se iludam.


1) O milagre industrial de Salazar

É desconcertante, mas factual: em menos de 20 anos, um ditador isolado e parcimonioso industrializou Portugal.
Entre os anos 50 e 70, o país ergueu barragens, portos, linhas férreas, cimenteiras, siderurgias, refinarias, estaleiros,
fábricas químicas, universidades técnicas e empresas de projeção internacional — sem fundos europeus, sem crédito fácil,
sem capitalismo financeiro global
.

Salazar acreditava que a força de uma nação residia na produção, não na retórica.
Foi um moralista autoritário, mas também um contabilista visionário: queria equilíbrio orçamental e independência.
E o que fez foi criar um modelo económico pragmático, centrado no real: energia, transporte, indústria e poupança.

Nos seus Planos de Fomento, o Estado funcionava como arquiteto de soberania. As elites industriais —
Champalimaud, Espírito Santo, Melo, CUF, Têxtil Manuel Gonçalves — eram aliadas de uma estratégia nacional.
Produziam, exportavam, empregavam. E o país, mesmo reprimido politicamente, crescia e produzia.

“O ditador construiu fábricas, escolas e barragens; os democratas ergueram consultoras, estádios e institutos.”

2) A ruptura e a ilusão da liberdade económica

O 25 de Abril libertou o povo — mas decapitou a estratégia económica.
As nacionalizações de 1975 puseram fim ao modelo produtivo, substituindo gestores técnicos por comissários políticos.
A partir daí, o Estado passou a ser patrão sem competência e o setor privado, empresário sem rumo.

Em 1986, com a entrada na CEE, Portugal assinou o seu pacto faustiano:
fundos em troca da destruição da indústria nacional.
Bruxelas abria os cofres, mas fechava-nos as fábricas.
Passámos a importar quase tudo e a exportar mão-de-obra barata e obediência.

Desde então, os fundos europeus tornaram-se a nova religião:
cada ciclo político é um “programa de fundos” e cada governo um escritório de candidaturas.
Os planos industriais desapareceram, substituídos por slides coloridos e slogans de inovação.

“Portugal deixou de fabricar aço — e começou a fabricar PowerPoints.”

3) O euro e a colonização financeira

A adesão ao euro foi o golpe final na soberania económica.
Perdemos o controlo da moeda, da taxa de juro e da política orçamental.
Os bancos nacionais cresceram à sombra do crédito externo, e o país endividou-se como nunca.

O Estado, incapaz de gerar riqueza real, viveu de impostos e dívida.
As famílias, de crédito.
As empresas, de subsídios.
E a política, de promessas.

Entre o “milagre europeu” e o “défice controlado”, o que se construiu foi uma democracia de papel timbrado:
papéis, relatórios, pareceres, projetos, PowerPoints — tudo menos produção tangível.

4) Corrupção sistémica e o mito do progresso

Em meio século de liberdade, **o povo confundiu democracia com permissividade e progresso com consumo**.
A elite política transformou o Estado num tabuleiro de negócios,
e os partidos em máquinas de distribuição de cargos e contratos.

A corrupção deixou de ser exceção: tornou-se método de governação.
Tudo é legal, tudo é formal, mas nada é moral.
As empresas públicas são feudos partidários; os reguladores, escudos de conveniência.
O sistema protege-se a si próprio — e chama a isso “estabilidade”.

“No Estado Novo havia medo; na democracia há impunidade.
Em ambos, o povo é mero figurante do poder.”

5) A banca — o socialismo dos ricos

Salazar não salvava banqueiros: falia quem especulava.
Já os “democratas”, em nome da estabilidade, salvaram todos os bancos falidos com dinheiro público.
BPN, BES, Banif, BPP — uma cascata de escândalos onde o cidadão pagou o luxo e a fraude da elite financeira.

É o novo socialismo português:
privatizam-se os lucros, socializam-se as perdas.
Chamam-lhe “sistema financeiro sólido”.
Eu chamo-lhe pilhagem legalizada.

Enquanto isso, as pequenas empresas — as que realmente produzem —
são esmagadas por impostos, burocracia e ausência de crédito.

6) A morte da soberania produtiva

Portugal deixou de pensar em si como nação produtora.
Tornou-se um “projeto europeu”, um destino turístico, um país de serviços — bonito, mas frágil.
A indústria caiu para menos de 13% do PIB; a agricultura definha sob subsídios;
e a juventude, qualificada, emigra em silêncio.

O povo trabalha, paga e cala-se.
Os governos mudam, mas o sistema mantém-se —
uma aliança entre burocratas e banqueiros, mascarada de progresso democrático.

“Portugal é hoje uma democracia sem indústria, uma economia sem soberania e uma liberdade sem destino.”

7) O despertar necessário

Nenhum país renasce enquanto aceita o engano como rotina.
É urgente recuperar o sentido de trabalho produtivo, ética pública e projeto comum.
Precisamos de menos promessas e mais fábricas, menos comissões e mais oficinas,
menos “parcerias estratégicas” e mais soberania real.

O futuro não se constrói com relatórios, mas com aço, com suor e com inteligência.
E talvez o novo milagre português comece quando deixarmos de mendigar fundos
e voltarmos a acreditar em nós próprios.

“O país que aprendeu a viver de subsídios só voltará a ser livre quando voltar a produzir o que consome e a sonhar o que constrói.”

“Em meio século de democracia, Portugal trocou o aço pelo PowerPoint, a produção pela propaganda e a soberania pela subvenção.
Este texto não é um julgamento — é um espelho.”
– Francisco Gonçalves


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Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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