
Quando o Hospital Vira Ausência: Um Parto, Um Abandono, Um País falhado
Nascer no Átrio: Um País Que Não Estava Lá
📍 O caso ocorreu num hospital público português, o Hospital Santos Silva em Gaia.
👩 Uma grávida foi enviada para casa após recorrer à urgência.
⏱️ Mais tarde, em trabalho de parto, voltou a recorrer ao hospital.
🚪 Esperou… e esperou… à porta.
👶 O bebé nasceu no átrio, sem apoio médico.
🩸 A mãe deu à luz sem ninguém por perto, a criança nasceu e bateu com a cabeça no chão, e ali ficou. Inacreditável!.
🏥 A diretora da unidade declarou que “tudo estava bem, e que a grávida estava a ser acompanhada!”.
Um átrio. Um parto. Um país ausente.
Na terra onde se ergueram hospitais para servir vidas, hoje, por vezes, servem apenas desculpas.
Na terra onde se diz que “a saúde é um direito”, há mulheres em trabalho de parto que são mandadas para casa — como se o corpo seguisse horários de expediente, como se a dor pudesse ser agendada.
Foi assim com esta mãe.
Foi assim com este pai.
Foi assim com esta criança que não pediu para nascer no átrio, sem colo, sem braços profissionais que a acolhessem.
Nasceu sozinha.
Bateu com a cabeça.
No chão de um hospital público.
Em Portugal.
No século XXI.
E como responde o sistema?
“Estava a ser acompanhada.”
Não, senhora diretora. Não estava.
Acompanhada estaria se alguém lhe tivesse aberto a porta.
Acompanhada estaria se alguém lhe tivesse segurado a mão.
Acompanhada estaria se um profissional tivesse visto a urgência com olhos humanos — não como mais um número numa lista de espera.
Mas esta mãe esteve sozinha.
O pai esteve sozinho.
E o bebé, esse, entrou no mundo sem testemunhas competentes, sem assistência, sem dignidade.
O que caiu no chão, naquele instante, não foi só um recém-nascido.
Caiu a confiança.
Caiu a esperança de um país mais justo.
Caiu a máscara de um Estado que já não sabe o que é cuidar.
E quando a diretora fala, fala como tantas figuras públicas falam:
Para limpar, para defender, para justificar o injustificável.
Mas não fala com empatia.
Não pede desculpa.
Não assume que falhou.
Até quando vamos aceitar isto?
Até quando vamos deixar que a frieza dos protocolos valha mais que o calor da vida humana?
Até quando permitiremos que a incompetência administrativa seja tratada como um pequeno deslize, em vez de um falhanço moral?
Se esta criança sofrer sequelas, quem responderá?
Se não sofrer, foi por sorte — não por mérito.
E uma sociedade que se apoia na sorte é uma sociedade em colapso.
Porque a vida, essa, exige mais do que declarações frias.
Ela exige presença.
Exige responsabilidade.
E exige mudança.
Não basta dizer “estava tudo bem” — quando tudo esteve horrivelmente mal.
Com testemunhos de um país que sangra devagar.
Publicado em: Fragmentos do Caos

