
🧠 A Pedagogia do Esquecimento: o triunfo da ignorância instruída
A Civilização do Verniz: como o sistema educa para obedecer e deseduca para pensar
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Série: Contra o Teatro da Mediocridade
Vivemos num tempo em que a ignorância já não é ausência de saber — é excesso de informação sem digestão.
O mundo está cheio de pessoas com diplomas, mas vazio de mentes lúcidas.
Ensina-se a repetir, a decorar, a cumprir metas, a preencher formulários.
Mas não se ensina a duvidar, a relacionar, a transcender.
A escola transformou-se numa linha de montagem de obediência intelectual: entra uma criança curiosa e sai um adulto domesticado.
O diploma é o selo de aprovação do sistema, o passaporte para o conformismo bem-educado.
E o poder — subtil, astuto — compreendeu que nada é mais perigoso do que um povo que pensa; por isso deu-lhe certificados e slogans no lugar de ideias.
Hoje todos “sabem tudo”, e ninguém compreende nada.
Sabem o nome das ferramentas, mas não o sentido da obra.
Sabem os algoritmos, mas não o valor da verdade.
Sabem “como”, mas já esqueceram o “porquê”.
É o triunfo da forma sobre a substância, do “parecer instruído” sobre o “ser consciente”.
O povo foi transformado em colecionador de diplomas — tal como os governos colecionam cimeiras, relatórios e PowerPoints.
A aparência de progresso substituiu o progresso real.
O verbo “pensar” foi banido dos programas.
E o verbo “produzir” tornou-se a nova religião.
O sistema educativo moderno é uma maquinaria disfarçada de templo.
Fala em liberdade, mas formata o espírito.
Celebra a diversidade, mas exige uniformidade.
E como todo o império, tem o seu dogma:
“Quem não tem diploma, não tem valor.”
Mas a verdade é que o diploma não mede o saber — mede a submissão.
Mede o tempo que alguém foi capaz de fingir acreditar no que lhe ensinaram,
sem nunca levantar a mão para perguntar: “Mas e se estiver tudo errado?”
Eis o paradoxo: quanto mais instruído o povo, mais fácil é enganá-lo.
Porque já não se defende com instinto, mas com teorias emprestadas.
Já não questiona, apenas cita.
E o poder, rindo-se no seu trono digital, observa a multidão confiante nas suas credenciais — incapaz de perceber que foi treinada para obedecer com método e orgulho.
A iliteracia de hoje é refinada: escreve bem, apresenta slides, domina jargões.
Mas não pensa.
É a iliteracia do século XXI — a iliteracia do espírito.
Aquela que lê mil livros e não muda uma ideia;
que coleciona títulos e continua servil;
que fala em liberdade e não percebe o preço da dignidade.
Enquanto isso, o país celebra “mais licenciados do que nunca”.
E contudo, nunca houve tanta ignorância organizada, tanta docilidade com canudo, tanto silêncio com currículo.
A arte de enganar já não precisa de censura — basta currículos longos e pensamento curto.
O verdadeiro mestre já não está nas universidades — está onde há curiosidade, dúvida e coragem.
Está onde alguém ousa perguntar, com inocência luminosa e insolência poética:
“Por que acreditamos no que nos mandam acreditar?”
A Civilização do Verniz avança, polida e vazia.
Mas há rachaduras na superfície.
E é por essas fendas que ainda entra a luz —
a luz dos que não se contentam em saber de cor,
porque preferem compreender com o coração.
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