
E-Lar: Casa Verde ou Bandeira Partidária?
E-Lar: Apoio Social ou Subsídio Eleitoral?
– Apoios até 1 683 € para famílias vulneráveis.
– Apoios até 1 100 € para “outras famílias”.
– Substituição de fogões, esquentadores e equipamentos ineficientes.
– 100 milhões de euros de investimento público.
O Governo anunciou o programa E-Lar, uma bandeira de “descarbonização das casas portuguesas”.
À primeira vista, parece um gesto de justiça social: apoiar famílias pobres a trocar equipamentos a gás ou velhos por versões mais eficientes e limpas.
Mas a letra miúda revela outra camada: o programa não se limita aos mais vulneráveis.
A partir de agora também “outras famílias” poderão beneficiar dos apoios — agregados da classe média, sem tarifa social, mas com direito a vouchers de até 1 100 €.
É aqui que se levanta a suspeita: estamos perante uma política de combate à pobreza energética ou um mecanismo subtil de popularidade e votos?
A Dúvida que Fica
Se o objetivo fosse apenas combater a exclusão energética, o foco deveria ser exclusivo nas famílias em maior carência.
Mas ao estender o programa à classe média, o Governo abre o campo da generosidade financiada por todos,
num momento em que a legitimidade política anda pelas ruas da amargura.
Descarbonizar casas é necessário e justo.
Mas transformar esse processo em campanha disfarçada de bondade é jogar novamente o velho truque:
distribuir apoios não para mudar estruturalmente o país, mas para alimentar fidelidades eleitorais.
“E-Lar pode ser um passo para a transição energética.
Mas também pode ser apenas mais um subsídio com cheiro a voto.”
A Burocracia que Exclui
O detalhe mais hilariante — e cruel — do E-Lar é este:
para que os mais desfavorecidos se candidatem ao apoio, têm de preencher uma candidatura online.
Justamente aqueles que menos acesso têm a computadores, internet ou literacia digital.
Assim, em nome da inclusão, cria-se uma barreira invisível.
O pobre que mal sabe ler ou que nunca tocou num computador
enfrenta o labirinto burocrático de formulários, logins e comprovativos.
E, no fim, o apoio acaba muitas vezes por ir parar à classe média mais ágil com tecnologia.
“Prometem dar ao povo vulnerável, mas escondem o ouro atrás de um ecrã que poucos sabem acender.”
✍️ Artigo por Francisco Gonçalves
Publicado em Fragmentos do Caos

