
Portugal : Postal Ilustrado da Mediocridade
Portugal de Postal Ilustrado
Box de Factos: Marcelo Rebelo de Sousa, em Nova Iorque, declarou que Portugal é “o melhor país do mundo”, elogiando o superavit, a segurança e a estabilidade do país perante representantes da comunidade portuguesa e da ONU.
No púlpito dourado de Nova Iorque, Marcelo levanta a voz e declara: “Portugal é o melhor país do mundo.”
E o mundo aplaude, fascinado pela retórica melodiosa, como quem ouve um velho fado embalado por vinho e nostalgia.
Mas cá dentro, no coração cansado da pátria, ecoa outra música — feita de corredores hospitalares onde o tempo é dor, de escolas a cair sem professores, de jovens que partem porque aqui não se pode sonhar.
O Presidente fala de superavit, dessa doença dos países ricos, como se a aritmética das contas públicas fosse bálsamo para a alma de um povo. Mas o que vale o equilíbrio de números frios, quando o desequilíbrio das vidas é tão gritante? Quando os portugueses carregam sobre os ombros impostos sufocantes, salários minguados e rendas que devoram a esperança?
Marcelo sorri e gaba a “segurança”, a “estabilidade”, a “fibra dos portugueses”.
Mas não diz que essa fibra é de resistência silenciosa, de resignação herdada, de séculos a aguentar reis, ditadores e agora democratas de fachada.
E então, perante o mundo, sinto vergonha.
Não da minha terra, não do meu povo, que é nobre e digno na sua dor.
Mas do espetáculo de máscaras que transforma Portugal num postal ilustrado para turistas e investidores, ocultando a pobreza extrema, a corrupção entranhada, a mediocridade governativa.
Portugal não precisa de mais discursos açucarados.
Precisa de verdade, coragem e futuro.
Precisa de líderes que não vendam ilusões em Nova Iorque, mas que construam dignidade em Lisboa, no Porto, em Bragança, em Beja.
E um dia, quando este teatro cair, talvez possamos olhar o mundo de frente e dizer, sem corar:
Portugal é o melhor país do mundo — porque é justo, livre e verdadeiro.
✍️ Por Francisco Gonçalves — publicado em Fragmentos do Caos
Marcelo sorri para o mundo,
mas o rosto do país é de tristeza.
Portugal tornou-se postal de turista,
enquanto o povo, em silêncio,
carrega a dor da verdade.

