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O Saber que Não Sabe: A Ilusão Educacional Portuguesa

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Educação em Portugal: o Diploma que Não Lê

🕯️ Box de Factos
Segundo o relatório Education at a Glance 2025 da OCDE, citado pelo *Jornal de Notícias*, 46 % dos adultos portugueses encontram-se nos níveis de proficiência mais baixos em literacia, comparado com uma média de 27 % na OCDE.
Além disso, 73 % dos estudantes universitários têm pais com escolaridade elevada, enquanto só 23 % dos filhos de pais que não completaram o ensino secundário acedem ao ensino superior. 1

Portugal revive uma nostalgia equivocada: muitos diplomas, poucas competências. Como afirma o professor João Marôco, da Universidade Lusófona — entrevistado no *Jornal de Notícias* para o artigo “Qual o estado da educação em Portugal?” —
“não nos adianta ter muitos jovens e adultos com diplomas universitários, se depois, quando somos sujeitos a avaliações independentes internacionais, apenas metade dos nossos adultos têm competências básicas de literacia.” 2
É um espelho duro: 46 % dos adultos portugueses estão nos níveis de proficiência mais baixos — frente aos 27 % da média da OCDE. 3
E, mais provocante ainda: “um licenciado português tem um nível de literacia equivalente ao de um adulto finlandês com o ensino secundário”. 4
Ou seja: diplomar sim — mas com exigência, rigor e validade das certificações.

A fábrica de diplomas

Nos últimos anos, Portugal erigiu uma verdadeira “fábrica de diplomas” — cursos fáceis, critérios frouxos, avaliações que raiam o superficial.
A palavra “inclusão”, tão nobre, muitas vezes serve de escudo para esconder a abdicação de uma cultura de exigência.
O resultado? Jovens que copiam respostas, mas não aprendem a ler o mundo.

O fosso social que nunca se curva

Os números são implacáveis: 73 % dos estudantes do ensino superior têm pais com escolaridade elevada, mas só 23 % dos filhos de pais sem ensino secundário chegam à universidade — uma diferença de 50 pontos percentuais. 5
No universo OCDE, essa diferença não chega nem à metade. 6
É evidente: o sistema educativo português reproduz desigualdades familiares em vez de mitigá-las.

Professores no limiar da exaustão

Marôco chama a atenção para outro dado dramático: “mais de metade da nossa classe docente tem mais de 50 anos, está envelhecida, cansada, soterrada em burocracia” — e as escolas com escassez de professores cresceram 30 % nos últimos cinco anos. 7
Quando o timoneiro docente se enfraquece, toda a embarcação pedagógica balança.

Diplomar não é educar

Diplomar produz papéis. Educar produz sentidos.
Num país onde quase metade dos adultos não domina a leitura de um texto básico, onde muitos diplomas não abonam competência, a diferença entre o símbolo e o conteúdo tornou-se abissal.

Um futuro possível (ou não)

O relatório da OCDE, ecoado pelo JN, não é apenas diagnóstico: é alarme.
Portugal precisa de uma revolução silenciosa: resgatar a cultura da exigência, valorizar os professores, requalificar o currículo e, sobretudo, cevar uma nova mentalidade de saber — que proclame que título é consequência, não ponto de chegada.


✍️ Crónica de Francisco Gonçalves
Série “Contra o Teatro da Mediocridade”
Inspirada no artigo “Qual o estado da educação em Portugal?”, Jornal de Notícias, 2025

Publicado em JN

🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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