
Portugal : A Justiça às Cegas e o País às Escuras
O País nas Trevas da Mediocridade
Entre a Justiça Amnésica e o Poder sem Alma
Portugal vive, mais uma vez, o seu próprio enredo de sombras: investigações que começam com promessas de verdade e terminam em silêncio administrativo.
A Procuradoria-Geral da República, guardiã teórica da transparência, vê desaparecer dos seus arquivos aquilo que o povo esperava ver revelado — e o país volta a mergulhar na penumbra que o define há décadas.
Os ficheiros apagam-se, as provas evaporam-se, os culpados tornam-se figuras respeitáveis.
No meio, o cidadão comum, que paga impostos e acredita na justiça, observa o espetáculo com a resignação de quem já sabe o desfecho.
Em Portugal, a mediocridade não é falha — é sistema operativo.
A Justiça Sem Memória
Os grandes processos parecem escritos a lápis: apagam-se quando o poder muda de mãos.
A verdade, quando toca as elites, é tratada com luvas de seda e esquecida em prazos processuais.
A Justiça tornou-se burocrática, cansada e previsível — uma coreografia lenta que entretém o povo e absolve o poder.
Não há fogo nem fúria, apenas protocolos e desculpas.
A impunidade, essa velha senhora, continua a passear-se de salto alto pelos corredores do Estado.
O Poder Sem Alma
O poder político, por sua vez, continua a confundir autoridade com autoproteção.
Há sempre um “não comento investigações em curso”, um “sigilo judicial”, ou um “erro técnico” pronto a justificar o inexplicável.
A classe dirigente portuguesa vive num estado de auto-indulgência crónica — fala em ética enquanto a pratica em surdina.
Montenegro prometeu um novo ciclo, mas parece ter herdado o mesmo teatro:
as luzes acendem, os atores mudam de fato, mas o guião é o mesmo.
E o país continua sentado na plateia, a aplaudir por inércia.
A Alma Que Falta
Portugal precisa de um sobressalto moral — não de mais comissões, mas de consciência.
Precisa de justiça com memória, de poder com vergonha e de cidadãos com coragem.
Porque sem isso, continuaremos a ser um povo que vive na sombra e chama a isso “normalidade”.
As trevas da mediocridade não se dissipam com discursos — dissipam-se com caráter.
E esse, infelizmente, é o recurso mais escasso da política nacional.
Francisco Gonçalves |
Augustus Veritas Lumen
Para o projecto Fragmentos do Caos – Série Contra o Teatro da Mediocridade
“Não se vence a escuridão com raiva, mas com claridade — e coragem.”
– Augustus Veritas
