
Marcelo : O Presidente On Fire
Marcelo e o País em Cinzas: A Tragédia Transformada em Rotina

Portugal ardeu de novo. As serras, os vales, as aldeias e os sonhos tornaram-se cinza.
As televisões transmitiram, mais uma vez, o drama em directo — e no fim, como quem recita o refrão de uma velha canção, Marcelo Rebelo de Sousa disse:
“Estamos bastante melhor do que em 2017, mas ainda aquém.”
Ah, Marcelo… se isto não fosse tragédia, seria comédia.
Falar de fogo em Portugal é como falar do fado: repete-se, sente-se, e todos fingem que não há nada a fazer.
Mas há — e não fazer nada tornou-se a verdadeira tradição nacional.
O teatro das cinzas
Desde 2017 que o país promete “nunca mais”.
E todos os verões o inferno regressa, com novas vítimas e velhos discursos.
As florestas continuam abandonadas, os bombeiros continuam exaustos, e o Estado continua a funcionar em modo “reunião de emergência” — sempre depois das chamas.
Marcelo, o comentador da própria presidência, tenta consolar-nos com palavras de avô benevolente.
Mas o país não precisa de consolo — precisa de ação, de planeamento e de responsabilidade.
Em vez disso, recebe frases de ocasião e promessas de relatório.
O fogo que nunca se apaga
O problema de Portugal não é o fogo, é o esquecimento.
O fogo é apenas o mensageiro — traz à superfície tudo o que escondemos: o abandono do interior, a burocracia, a descoordenação e o desprezo pelos que vivem longe de Lisboa.
Quando Marcelo diz que “estamos melhor”, o que quer realmente dizer é que nos habituámos melhor à tragédia.
Porque o país não mudou — apenas aprendeu a gerir o desastre com mais eficiência mediática.
A política da indiferença
Portugal é governado como se fosse um programa de televisão:
há um apresentador sorridente, há emoção, há lágrimas, e no fim, tudo continua igual.
O poder tornou-se espetáculo e a tragédia, um guião repetido.
Os fogos já não chocam — entretêm.
E quando o país arde, o Presidente vai à televisão e diz que “estamos melhor”.
É o triunfo da superficialidade sobre a vergonha.
Epílogo: as cinzas da dignidade
Portugal está cansado de políticos que aparecem no meio da fumaça para fazer comentários.
Está cansado da compaixão pós-fogo, das promessas com cheiro a eucalipto queimado e da hipocrisia institucional que só reage quando o país já está a arder.
O que falta não é saber que estamos “melhor que em 2017”.
Falta saber porque é que 2017 nunca acabou.
O verdadeiro fogo não está nas matas — está na alma de um povo que se habituou a viver entre as chamas e aplaudir quem traz o balde vazio.

