
🕯️Desigualdade: a Herança Maldita da Pátria Adormecida
Portugal, a Pobreza Disfarçada de Europa

No Dia Internacional da Pobreza, os números falam — e Portugal finge não ouvir.
Mais de dois milhões de portugueses sobrevivem com menos de 600 euros por mês.
E setenta por cento do país trabalha por menos de 1200.
Mas claro — “a economia está a crescer”, dizem eles, de dentro das suas viaturas oficiais com motorista e cartão de combustível ilimitado.
A pobreza estatística e o luxo do discurso
Vivemos num país onde a miséria se tornou um dado técnico.
Já não é tragédia, é indicador macroeconómico.
Os relatórios falam de “crescimento inclusivo”, enquanto as famílias aprendem o truque da sobrevivência: comer mal, dormir pouco e sorrir muito — para não perder o emprego.
Portugal é um país de contrastes — mas de contrastes previsíveis.
Os mesmos rostos, as mesmas promessas, os mesmos pobres.
Só muda o PowerPoint das conferências de imprensa.
A ironia da abundância
Enquanto o ministro fala de “melhorias significativas”, o Zé das obras conta as moedas no café.
Enquanto o deputado viaja para Bruxelas para discutir “a coesão social”, a Maria da limpeza reza para que o gás não suba mais dois euros.
E assim o país vai vivendo — com ironia, paciência e uma certa vocação para mártir europeu.
Portugal é o país onde um aumento de 20 euros no salário mínimo é celebrado com conferências de imprensa e lágrimas de “progresso”.
É também o país onde se gasta milhões em consultorias sobre “como combater a pobreza”.
Como se fosse preciso estudar aquilo que se vê da janela de qualquer comboio suburbano.
O país que veste fatos de gala sobre corpos famintos
Somos uma nação de disfarces.
Vestimos o fato da modernidade, mas os bolsos continuam rotos.
Falamos de inovação, mas há crianças que ainda vão para a escola sem pequeno-almoço.
E quando alguém denuncia, chamam-lhe “pessimista” — como se o realismo fosse crime de lesa-pátria.
Os governantes dizem que “ninguém passa fome em Portugal”.
De facto, é verdade: há quem já tenha aprendido a não sentir fome, apenas a ausência crónica de futuro.
Epílogo: o luxo da resignação
Portugal transformou a pobreza em rotina e a resignação em virtude.
Somos um país que sofre em silêncio e vota com esperança, mesmo depois de 50 anos de promessas recicladas.
E ainda há quem diga, com o peito cheio de ironia, que “somos a Califórnia da Europa”.
Pois sim — só falta o salário, o ensino e a dignidade.
No fundo, Portugal não é pobre: é um país rico em pobres, governado por quem nunca soube o preço do pão.

