Burocracia,  Manipulação da verdade,  Mediocridade,  Nepotismo,  Pedinte da Europa

Portugal 5.0: A Inovação em PowerPoint e a Ciência em Suspense

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📜 Box de Factos

  • Tema: Execução do PRR e investimento em Investigação & Desenvolvimento (I&D) em Portugal
  • Fonte: Dados públicos e relatórios europeus sobre execução do PRR
  • Constatação: Portugal é líder em percentagem destinada a I&D no PRR, mas quase nenhum investimento foi concluído
  • Contexto: PRR 2021–2026 — Programa de Recuperação e Resiliência financiado pela União Europeia

O Teatro da Inovação: Portugal e o PRR que Brilha no Papel e Falha na Vida Real

I. O palco e o cenário

Portugal é, oficialmente, um dos países europeus que mais “apostam” em Investigação e Desenvolvimento no âmbito do PRR.
Os comunicados são exuberantes: percentagens impressionantes, compromissos milionários, promessas de revoluções tecnológicas.
Mas quando a cortina sobe, o palco está vazio — e os protagonistas ainda não chegaram.

O PRR tornou-se uma espécie de teatro orçamental.
O cenário é moderno, as palavras são importadas de Bruxelas, mas o guião é o mesmo de sempre:
burocracia, lentidão e uma dolorosa incapacidade de transformar intenção em ação.

II. A coreografia dos anúncios

Portugal é mestre em anunciar inovação.
Centros tecnológicos, clusters empresariais, agendas mobilizadoras — uma chuva de nomes e siglas que impressiona até o mais cético.
Mas se formos ao terreno, encontramos portas fechadas, prazos suspensos e concursos que morrem de inércia antes de nascerem de facto.

As empresas que realmente inovam continuam a lutar sozinhas, sem apoio real nem acesso rápido às verbas.
Enquanto isso, as grandes estruturas instaladas, com os contactos certos, recebem as tranches e acumulam relatórios e powerpoints.
Em vez de inovação, temos retórica com subsídio.

III. O paradoxo português

Os relatórios europeus colocam-nos como líderes entre os “inovadores moderados”.
É como ser o melhor aluno da turma dos medíocres: honra duvidosa, mérito relativo.
Continuamos a investir em “centros de inovação” e “redes colaborativas”, mas não em inovação dentro das empresas.
O Estado prefere financiar estruturas a estimular ideias.

Enquanto isso:

  • O país continua a importar conhecimento em vez de o gerar.
  • Os jovens investigadores emigram, e as universidades perdem massa crítica.
  • As empresas sobrevivem graças a subsídios e não à competitividade real.

É a inovação sem risco, a ciência sem propósito, o progresso sem consequência.
Portugal transforma cada programa europeu numa oportunidade de discurso, não de transformação.

IV. Os números que encantam e enganam

Nos relatórios oficiais, tudo parece promissor:
“Portugal dedica 3% do PRR a I&D”, “é dos países com maior proporção de verbas para inovação”.
Mas o que raramente se diz é que o país ainda não executou integralmente nenhum projeto estruturante nessa área.
Há compromissos, mas não há obra feita; há planos, mas não há protótipos; há relatórios, mas não há resultados.

O PRR tornou-se uma vitrina de boas intenções — limpa, iluminada e vazia.
É a estética da eficiência sem substância:
parece modernidade, mas é apenas contabilidade com maquilhagem digital.

V. O espelho e o reflexo

Portugal continua a confundir progresso com apresentação de slides.
É um país que sonha em ser Silicon Valley, mas continua atolado em formulários e autorizações.
A inovação não nasce em gabinetes ministeriais, nasce em oficinas, em laboratórios, em mentes inquietas — e é precisamente essas que o sistema afasta.

Ser líder em intenção não é mérito — é ironia.
Somos os primeiros a reservar verbas e os últimos a utilizá-las.
O PRR é o espelho de uma cultura política que prefere a aparência à execução, o anúncio à realização, o palco ao conteúdo.

VI. Epílogo: o futuro que não chega

O verdadeiro milagre seria um orçamento que deixasse de anunciar o futuro e começasse a construí-lo.
A inovação portuguesa não precisa de mais discursos — precisa de chão, de coragem e de liberdade.
Enquanto o país se contentar com relatórios bem diagramados, continuará a ser o eterno aluno aplicado do improviso europeu.

“Inovar é fazer o que nunca foi feito.
E o que Portugal faz melhor é repetir o que já anunciou.”

— Augustus Veritas Lumen · Fragmentos do Caos
🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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