Assalto a "coisa pública",  Corrupção,  Mediocridade,  Nepotismo

Tudo Como Dantes, Quartel-General em Abrantes

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Por Francisco Gonçalves


Portugal voltou às urnas, e as televisões, com o fervor das vésperas de uma revolução que nunca chega, anunciaram o que já todos sabíamos: nada mudou. O país desperta da noite eleitoral para o mesmo amanhecer cinzento de há cinquenta e um anos. O mesmo enredo, os mesmos rostos, as mesmas promessas com cheiro a mofo político.

O PS e o PSD continuam a dividir o poder como dois velhos generais que nunca perceberam que o país deixou de ser quartel e passou a ser campo de refugiados económicos. Revezam-se com a solenidade de um ritual arcaico, como se alternar o verdugo fosse o mesmo que libertar o condenado. E o povo, exausto e domesticado, aplaude — como se a obediência fosse virtude e não derrota.

Os portugueses tornaram-se espectadores da sua própria decadência. Entre cafés, slogans e debates televisivos, repetem a velha ladainha: “são todos iguais”. Mas na hora de votar, escolhem os mesmos — como quem volta a um vício que o mata, mas ao menos é familiar.

O país que se gaba de ser de poetas e navegadores vive agora de burocratas e contadores de votos. Perdemos o mar e a coragem, trocámos a utopia pela esmola europeia e a indignação pelo silêncio. E enquanto o mundo avança a ritmo quântico, Portugal continua a marchar ao som da mesma fanfarra da mediocridade.

Corrupção no poder local

Figura: o feudalismo moderno das autarquias — poder local, compadrio e impunidade.

É trágico porque não é apenas política, ou a “democracia a funcionar”, como tanto os políticos gostam de justificar — é moral e cultural. O país continua prisioneiro dos caciques locais, dos conluios invisíveis e dos negócios que se disfarçam de obras públicas. Cada autarquia é um pequeno feudo, e o poder local tornou-se um teatro em que os actores mudam de camisa, mas o guião é sempre o mesmo: favores, contratos, e silêncio.

Mais de metade da corrupção nasce aí — não nos gabinetes dourados de Lisboa, mas nas pequenas mesas das câmaras e juntas, onde se decidem licenças, ajustes directos e empregos “para os da casa”. E quando os mesmos voltam a ganhar, ano após ano, não é apenas o poder que se perpetua — é o hábito da impunidade.

Portugal vive uma espécie de feudalismo moderno, onde o povo vota no senhorio que o explora, convencido de que pior seria mudar. Mas há um limite para a anestesia — um dia a dor económica, a pobreza e a humilhação vão ultrapassar o medo, e então, como dizes tantas vezes, a revolução virá não pela raiva, mas pela lucidez.

Resumindo – “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes” — nunca uma expressão foi tão perfeita. Há meio século que mudam os uniformes, mas o comando é o mesmo. A corrupção é institucional, o compadrio é tradição, e a esperança… artigo de luxo.

Mas há sempre quem resista, quem não se cale, quem acredite que pensar é ainda o mais revolucionário dos actos. Porque o dia em que deixarmos de pensar, de exigir e de sonhar, será o verdadeiro funeral da liberdade.

E talvez — apenas talvez — quando a dor de permanecer iguais for maior do que o medo de mudar, este povo de brandos costumes se lembre que um país não se constrói com votos cegos, mas com consciência desperta.


“Quando um povo se acomoda desta forma, talvez mereça a situação em que se encontra.”

© 2025 – Fragmentos do Caos

Fontes : Gráfico cortesia de OpenAI com base nos resultados disponíveis online.


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Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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