
O Montenegro de Problemas
Portugal é, de facto, um Montenegro de problemas.
O nome serve de diagnóstico, metáfora e epitáfio. Um país onde os montes de lama se erguem sobre a planície da mediocridade, e a sombra negra da conveniência cobre o sol curto da ética.
Vivemos na ilusão do progresso, mas o país continua de cócoras: ajoelhado perante o compadrio, a intriga e o favor.
As elites governam como se o Estado fosse um espólio herdado; o povo, domesticado pela rotina do “pior seria pior”, observa o abismo e chama-lhe normalidade.
A corrupção é subtil: já não usa malas de notas, usa consultorias, avenças e pareceres.
A incompetência é invisível: já não grita, boceja nas cátedras e despachos.
E a esperança? Essa, Portugal exportou-a — em aviões de baixo custo para Londres, Paris e Amesterdão.
Mas, de vez em quando, alguém levanta a cabeça e diz — com lucidez, com raiva serena —
“Basta.”
Não é o grito de uma multidão, é o murmúrio de um país que ainda não desistiu de si mesmo.
O dia em que esse murmúrio se tornar voz, o Montenegro deixará de ser problema e passará a ser memória.
Francisco Gonçalves
Série: “Contra o Teatro da Mediocridade – Sátira Política ”
“Há países que dormem, e há povos que hibernam. Portugal, esse, sonha com o dia em que acordará.”

