
A Sinfonia Silenciosa do Estado: Quando o Futuro Não Cabe nas Contas
📜 Box de Factos
- Título: O Orçamento que Portugal Precisava, mas Não Teve
- Contexto: Reflexão crítica sobre a Proposta de Orçamento do Estado 2026
- Autor: Augustus Veritas Lumen · Fragmentos do Caos
- Data: Outubro de 2025
- Tema central: A ausência de visão estrutural e estratégica no OE2026
O Orçamento que Portugal Precisava, mas Não Teve
I. O silêncio das ambições
O Orçamento de Estado 2026 chega como um exercício de prudência e autoproteção.
Os números batem certo, os gráficos sorriem, e o saldo orçamental é ligeiramente positivo — como se isso bastasse para aplaudir um país que continua a definhar nos bastidores da Europa.
Mas não é um orçamento de futuro. É um espelho polido do presente, onde se reflete a ausência de ambição e de coragem política.
O que falta neste orçamento não é dinheiro — é visão.
O que sobra é contabilidade.
O país precisa de ideias transformadoras, não de folhas de Excel com colunas alinhadas a duas casas decimais.
II. O que devia estar e não está
1. Um Plano Nacional de Inovação Industrial
Portugal devia lançar um programa estratégico de reindustrialização inteligente: robótica, IA, biotecnologia, semicondutores, energia verde e automação.
Nada disto está no OE2026.
Temos incentivos dispersos, mas não uma visão integradora que devolva à economia o músculo que perdeu nas décadas de desindustrialização e turismo dependente.
2. Um Programa Verde com alma
Fala-se de transição energética, mas de forma genérica e burocrática.
Faltam metas concretas de autossuficiência, economia circular e reciclagem total.
O “verde” do orçamento é o dos números, não o das florestas.
3. Uma Reforma Fiscal Ética
Continuamos a penalizar quem trabalha e a proteger quem especula.
Um sistema fiscal ético premiaria a criação e puniria o rentismo, as rendas fáceis e o capital escondido em offshores.
Enquanto isso, o trabalhador paga o dobro da lealdade que o Estado raramente devolve.
4. Educação para o século XXI
O orçamento injeta milhões na Educação, mas quase tudo vai para salários.
Nada muda na essência: escolas do século XIX com tablets do século XXI.
Faltam laboratórios de programação, parcerias com universidades estrangeiras, e um pacto nacional para formar pensadores, não repetidores.
5. Um SNS digital, descentralizado e humano
O SNS precisa de reinvenção — e isso não custa mais dinheiro, custa inteligência.
Prontuários eletrónicos universais, telemedicina, clínicas digitais, startups de saúde integradas no sistema público — tudo ausente.
Continuamos presos ao modelo centralizado e exaurido, onde a cura é mais lenta que a doença.
6. Um choque de simplificação
O OE devia fixar metas obrigatórias de desburocratização — menos papéis, menos entidades redundantes, menos autorizações absurdas.
Em vez disso, o orçamento cria novas estruturas.
Portugal é o único país onde a simplificação gera mais cargos do que soluções.
7. Cultura e Ciência como investimento
A cultura e a ciência continuam tratadas como despesas de luxo.
Faltava uma lei que garantisse 2% do PIB para estas áreas.
Sem cultura e ciência, um país não é moderno — é apenas funcional.
8. Inteligência Artificial e soberania cognitiva
Zero menções sérias a IA no OE2026.
Portugal devia criar um plano nacional de Inteligência Artificial Ética: investir em modelos linguísticos portugueses, dados públicos interoperáveis e proteção do pensamento nacional.
Ignorar a IA é abdicar da soberania cognitiva — e condenar-se à irrelevância.
9. Transparência radical
O orçamento devia nascer e viver à vista de todos: uma plataforma pública onde qualquer cidadão visse, em tempo real, o destino de cada euro gasto.
Transparência é a forma mais eficaz de reduzir corrupção — e a menos usada em Portugal.
10. Portugal 2035: um roteiro de civilização
O OE2026 devia ser o primeiro capítulo de um plano decenal: Portugal 2035.
Um pacto estratégico entre gerações, que definisse metas nacionais — industriais, ambientais, culturais e éticas.
Mas o país vive sempre de emergência em emergência, e o amanhã nunca tem dotação orçamental.
III. O preço da ausência
Um país que gasta tudo no presente e nada no futuro está a hipotecar a alma.
O OE2026 é financeiramente prudente, mas espiritualmente vazio.
Cumpre as metas de Bruxelas, mas não cumpre as esperanças dos portugueses.
E um orçamento sem esperança é apenas um inventário.
IV. Epílogo: a melodia que falta
Se o Orçamento de Estado fosse uma sinfonia, o de 2026 seria tecnicamente afinado, mas sem melodia.
A orquestra toca sem maestro, o povo assiste sem emoção, e o futuro espera — no silêncio entre duas notas.

