
Entre Czares e Palhaços — A Tragédia Europeia
Czares do Nada, Cortejos da Estupidez
Há momentos em que as palavras ditas por quem detém poder são tão desprovidas de sentido que só nos resta rir — ou resistir.
E quando, em nome da economia global, alguém propõe que a Europa precise de um “czar do mercado único”, como o fez esta semana
Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, no discurso de abertura da assembleia geral do FMI, o riso transforma-se num grito seco.
Fonte:
O Expresso de 8 de Outubro de 2025
Sim, um czar. O termo que nos remete para impérios autoritários, para cortes cheias de ouro e sangue, para arrogância aristocrática a decidir o destino dos que pouco ou nada têm.
Agora, em pleno século XXI, com a Europa mergulhada em desigualdades crónicas, retrocessos sociais e democracias à beira do cinismo, ressuscitam a figura do czar —
como se um salvador solitário pudesse resolver o que décadas de má governação afundaram.
O que falta à Europa não é um czar. Falta-lhe coragem. Falta-lhe decência. Falta-lhe uma política para o povo, com o povo e pelo povo —
e não esta liturgia de tecnocratas e fantoches que governam com gráficos, algoritmos e um profundo desprezo pela realidade concreta da maioria.
O mercado único europeu é um corpo amputado. Um corpo onde a circulação de capitais é livre, mas a justiça social é um luxo.
Onde as grandes empresas engordam, os bancos especulam, e os trabalhadores são obrigados a sobreviver entre contratos precários e salários indignos.
E agora… um czar?
A verdade é simples e terrível: os mais altos cargos no mundo estão, cada vez mais, nas mãos de idiotas. Idiotas com diplomas, com medalhas,
com cargos sonantes e currículos recheados de conferências internacionais — mas idiotas na mesma.
Porque não percebem o essencial: que a economia é feita de vidas humanas, de rostos reais, de fome, esperança, e dignidade.
O mundo está a arder. A crise climática, a pobreza estrutural, o colapso da saúde pública, a ascensão da extrema-direita,
a automatização que exclui — tudo isso exige pensamento crítico, humildade e ação. Não precisamos de czares. Precisamos de consciência.
Mas não, os cortejos da estupidez continuam, desfilando pelas avenidas douradas dos fóruns internacionais,
sorrindo para as câmaras, anunciando “resiliência acima do esperado” enquanto o povo segura as ruínas com as mãos nuas.
Talvez esteja na hora de declarar, nós, os sem tronos, uma revolução dos lúcidos. E construir um novo mundo — não com czares, mas com cidadãos despertos.
— Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Fragmentos do Caos · Outubro 2025
