
Da Spinumviva à Desconfiança Nacional — um Primeiro-Ministro em Modo Empresarial
Governar em Nome do Povo, com os Dossiers da Firma no Bolso

# Caso Montenegro e a Spinumviva
A notícia rebenta como um trovão abafado: o primeiro-ministro ainda não entregou ao Ministério Público os documentos solicitados no inquérito sobre a Spinumviva, empresa com ligações diretas ao próprio. Diz o gabinete que “o prazo ainda não terminou”. Mas o país sente que o tempo, esse, já se esgotou há muito — para desculpas, para disfarces, para fingimentos.
O surrealismo é gritante: o chefe do Governo, o mais alto representante do Estado, a braços com um pedido de documentação sobre clientes da sua própria firma. E o mais irónico? A recusa ou demora pode ser, em si, uma obstrução. Como se, no exercício do poder, ainda se pudesse manter o chapéu de gestor privado bem enfiado.
Estamos perante um dos casos mais exemplares daquilo a que poderíamos chamar Capitalismo de Gabinete — aquele em que os dossiers da firma viajam no mesmo malhete que os planos de governação. Um jogo perigoso entre interesse privado e responsabilidade pública.
“A justiça tarda, o poder nega, o povo paga.”
Portugal já viu muito. Mas nunca um primeiro-ministro ser chamado a abrir as gavetas da empresa para explicar possíveis esquemas suspeitos. E é aqui que a democracia treme — não porque os alicerces sejam fracos, mas porque os inquilinos já não têm vergonha de abrir empresas no rés-do-chão do Estado.
📌 É urgente separar a firma do Estado
Não há Constituição que aguente, nem democracia que floresça, se os governantes confundem o Palácio de São Bento com a sede da firma. O país precisa de clareza, de responsabilidade, de ética — e sobretudo de governantes que não fujam do escrutínio com evasivas processuais.
Governar é servir, não proteger interesses pessoais. E se Montenegro acredita no contrário, então está sentado na cadeira errada.
— Francisco Gonçalves & Augustus Veritas
Fragmentos do Caos, 8 de Outubro de 2025
🔗 Fonte: Jornal O Público

