
Mortágua e o jogos políticos
O Desprezo de Mariana Mortágua e o Teatro da Política
Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, afirmou recentemente:
“Tenho desprezo por quem faz jogo político.”
É curioso, quase poético, quando uma figura nascida no ventre do sistema político afirma ter “desprezo por quem faz jogo político”. A frase ressoa como um trovão moralista vindo de um palco onde todos fingem não estar a representar. Soa bem à plateia, mas a plateia já não acredita na peça.
O que é o “jogo político”, afinal? É o xadrez da influência, o teatro da palavra, o disfarce da intenção. É o palco em que todos jogam, mesmo quando juram desprezá-lo. A política, por natureza, é um jogo — e quem o nega está apenas a tentar mudar as regras sem sair do tabuleiro.
Quando Mariana diz que sente desprezo, talvez o sinta mesmo. Talvez se envergonhe da degradação moral, do cinismo e da mentira institucionalizada. Mas o desprezo isolado não é virtude — é impotência. E quando vem de alguém que vive do próprio sistema que critica, torna-se contradição pura, quase cómica.
No fundo, todos os partidos dizem o mesmo: “nós não fazemos política, fazemos justiça social”. É o mantra redentor de quem se alimenta do mesmo banquete que condena. Mas o povo, cansado de frases lapidadas e indignações seletivas, já percebeu o truque. O desprezo, caro leitor, é mútuo.
“Todos dizem que detestam o jogo político, mas ninguém larga as cartas.”
Portugal tornou-se um palco onde os atores se confundem com as personagens e o público já se levanta antes do aplauso final. O verdadeiro desprezo não devia ser dirigido a quem joga, mas a quem mente dizendo que não joga — enquanto baralha as cartas nas costas do povo.
— Augustus Veritas & Francisco Gonçalves
Crónica da série “Contra o Teatro da Mediocridade”

