
🌀 O Carrossel da Virtude: como girar sem sair do lugar
Spinumviva ou o Giro Perpétuo da Moral Pública
Procuradores entendem que deve ser aberto inquérito ao primeiro-ministro Luís Montenegro no âmbito do chamado
“caso Spinumviva”, relacionado com a origem dos fundos usados para comprar dois apartamentos em Lisboa.
Em causa estarão suspeitas de recebimento indevido de vantagem e branqueamento de capitais.
O levantamento do sigilo bancário do chefe do Governo está em cima da mesa.
Há nomes que já nascem com destino literário — Spinumviva soa a feitiço latino,
a máquina que gira sozinha no vazio moral do Estado português.
É a empresa familiar do primeiro-ministro, agora transformada em espelho da velha sina nacional:
confundir o público com o privado e chamar-lhe “empreendedorismo patriótico”.
Os procuradores, esses hereges da república, ousaram pôr em causa a santidade financeira do chefe do Governo.
Propõem um inquérito. Oh, sacrílego atrevimento!
Daí a revolta, as lágrimas políticas e a súbita aparição das tais “forças ocultas” — que, ao que parece, habitam dentro das contas bancárias.
Montenegro, outrora inflamado pela justiça moral, vê agora o fumo a entrar pela sua própria chaminé.
E o país, com a serenidade dos habituados à tragédia, observa mais um capítulo da telenovela ética nacional:
“Político indignado descobre que o espelho também reflete.”
Claro que nada está provado, nem estará tão cedo. Em Portugal, a verdade é como o Santo Graal — todos falam dela, ninguém a encontra.
E até que alguém tropece num documento com assinatura e IBAN, o guião mantém-se: negar, relativizar e culpar o clima.
A Spinumviva é um símbolo perfeito da nossa democracia ornamental — viva o suficiente para rodar comunicados e morta o bastante para
não rodar cabeças. E quando o poder é apanhado com a mão na gaveta, proclama-se vítima de uma conspiração cósmica organizada por advogados invisíveis.
“As forças ocultas afinal eram as transferências automáticas de conta para conta.”
O Procurador-Geral decide o destino, a imprensa dança o minueto e o povo — esse eterno figurante — assiste à reprise do mesmo espetáculo,
entre o tédio e o sarcasmo. No palco, a moral gira. No fundo, o país também.
— Augustus Veritas & Francisco Gonçalves
Série: “Contra o Teatro da Mediocridade”

