Ciência,  História da Computação,  Tecnologias IT,  Telecomunicações

ICL PC 2 – O meu primeiro computador pessoal em 1980

Spread the love

O Primeiro Computador Pessoal Multiutilizador:
A Aventura do ICL PC 2

ICL PC 2 Multiuser System 1980

Imagem gerada digitalmente – recriação de um laboratório ICL em 1977 com o sistema multiutilizador MP/M.

🧠 Box de Factos
Ano: 1980. Lançado em 1977.
Local: ICL – International Computers Limited, Lisboa
Máquina: ICL PC 2 com sistema operativo CP/M e MP/M
Utilizadores simultâneos: 3
Processador: Intel 8085A. 8 bits, 4 MHz
Memória: 64 KB
Sistema Operativo: MP/M (Digital Research, Gary Kildall)

O tempo em que o ecrã piscava e o futuro respirava em verde

No início dos anos 80, quando os computadores ainda cheiravam a ozono e as disquetes eram discos frágeis de esperança, nasceu na ICL um pequeno milagre técnico: o ICL PC 2.
Enquanto o mundo esperava pelo IBM PC e pelo império do DOS, um punhado de engenheiros ousava sonhar mais alto — dar multitarefa e multiutilizador a uma máquina pessoal.

O ambiente era o de um laboratório de ideias. O ecrã verde, monocromático, parecia uma janela para outro tempo. As letras dançavam em fósforo fosco, e cada linha de código assembler era uma sinfonia de precisão.
Foi nesse contexto que, em 1980, instalei o MP/M, o primeiro sistema operativo multitarefa da história dos micros. Criado por Gary Kildall, pai do CP/M, o MP/M era uma maravilha de engenharia — permitia que três utilizadores partilhassem simultaneamente o mesmo processador Z80.

Três almas dentro de um mesmo coração de silício

O setup era quase alquímico. Um computador principal — o ICL PC 2 — ligado por portas seriais RS-232 a três terminais. Cada utilizador tinha o seu teclado, o seu ecrã, o seu processo.
O MP/M geria tudo com uma elegância quase impossível: trocava tarefas, bloqueava recursos, mantinha a harmonia entre processos com um scheduler que mais parecia um maestro invisível.
Em plena era do byte, era como observar três consciências coexistirem dentro do mesmo corpo elétrico.

Enquanto outros ainda sonhavam com um computador por pessoa, o MP/M já provava que um só computador podia servir muitos.
Era o embrião do conceito de time-sharing, a semente da computação colaborativa que hoje sustenta o mundo em nuvem.

Uma heresia chamada inovação

Na ICL, poucos compreendiam a verdadeira dimensão daquilo. As prioridades eram comerciais, não filosóficas.
Mas para mim — e para tantos que acreditavam no poder criador da lógica — o MP/M foi um vislumbre do futuro.
Ali estava a semente do que viria a ser o UNIX, os servidores multiutilizador, a internet e o cloud computing de hoje.
Tudo começou com um pequeno ecrã verde e uma vontade indomável de fazer o impossível com apenas 64 KB de memória.

A lição que o tempo não apagou

Quarenta e cinco anos depois, recordo aquele tempo com uma mistura de ternura e reverência.
Não havia luxo, não havia gráficos, não havia interface.
Havia apenas engenho, curiosidade e espírito criador.
E talvez tenha sido isso que o tornou tão extraordinário:
não era o poder do hardware, mas a vontade humana de expandir o possível.

O ICL PC 2 foi mais do que uma máquina — foi um símbolo.
Mostrou que o pensamento livre, quando aliado ao rigor técnico, pode criar mundos inteiros dentro de um quadrado de fósforo verde.


“O verdadeiro luxo da era digital foi o instante em que cada bit tinha alma e cada linha de código era escrita com fé.”
— Francisco Gonçalves @ ICL Portugal 1978-1993

🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Contactos
📚 Explora a Biblioteca Fragmentos do Caos