
Da mala ao motorista: os bastidores financeiros do caso Sócrates
Operação Marquês: O Motorista, o Dinheiro e a Casa de Paris
📌 Factos Essenciais
- O motorista de José Sócrates, João Perna, é apontado como intermediário nos pagamentos de contas com dinheiro vindo de Carlos Santos Silva.
- Inspetores tributários detalham em tribunal os circuitos de numerário e depósitos suspeitos que alimentavam despesas do ex-primeiro-ministro.
- A “casa de Paris”, formalmente adquirida por Santos Silva, é considerada pelo MP como um benefício direto de Sócrates — ponto negado pela defesa.
- Em janeiro de 2024, a Relação de Lisboa mandou 22 arguidos, incluindo Sócrates, a julgamento por 118 crimes.
- Em junho de 2025, Sócrates foi ainda pronunciado por três crimes de branqueamento num processo apenso.
- O julgamento principal decorre desde julho de 2025 no Campus da Justiça, com a presunção de inocência a manter-se até decisão final.
O Motorista como Peça-Chave
De acordo com os testemunhos, o motorista João Perna não era apenas quem conduzia. Funcionava como elo prático entre o dinheiro de Santos Silva e as despesas correntes de Sócrates, pagando contas em numerário e movimentando envelopes de notas. Esta narrativa foi confirmada em vários momentos processuais, e voltou ao centro das atenções com a audição dos inspetores tributários em setembro de 2025.
A Casa de Paris
O apartamento parisiense tornou-se símbolo do processo. Para o Ministério Público, tratava-se de um bem adquirido por interposta pessoa (Santos Silva) para uso e proveito de Sócrates. A defesa insiste: nunca pertenceu ao ex-primeiro-ministro. A verdade judicial sobre este imóvel continua a ser objeto de prova em tribunal.
Cronologia
- 2014-2015: Primeiras revelações sobre o papel do motorista e as contas movimentadas em numerário.
- 25 jan 2024: Relação de Lisboa manda Sócrates e mais 21 arguidos a julgamento (118 crimes).
- 11 jun 2025: Pronúncia por três crimes de branqueamento em processo apenso.
- 3 jul 2025: Início do julgamento principal da Operação Marquês no Campus de Justiça.
- set 2025: Inspetores tributários explicam em tribunal os fluxos financeiros e as despesas pagas via motorista.
Conclusão
A Operação Marquês, com os seus milhares de páginas e anos de investigação, continua a expor as fragilidades da democracia portuguesa. As histórias de envelopes, motoristas, casas em Paris e circuitos obscuros de dinheiro são mais do que casos pessoais: são espelhos de um país onde a justiça tarda e a confiança dos cidadãos se esvai. O julgamento que decorre poderá absolver ou condenar, mas o dano já está feito — na memória coletiva de um povo que vê, mais uma vez, a política e o poder enredados na suspeita e na sombra.

