
Quando a excelência é empurrada para a fronteira
Contra a Corrente: Quarenta Anos de Excelência no País da Mediocridade
Por Francisco Gonçalves
Excerto:
Durante quatro décadas, percorri os caminhos da tecnologia e sistemas informação com a dignidade de quem sabe o que vale. Não me deram prémios, mas também nunca precisei deles. Porque o verdadeiro prémio é poder olhar para trás e saber que não traí a minha competência — nem a minha consciência.
O silêncio que envolve os competentes
Ao longo de quarenta anos em informática, vi de tudo.
Vi sistemas colapsarem por incompetência e serem salvos por uma linha de código certa.
Vi pseudo-especialistas darem voltas em círculos durante anos, enquanto eu, com a paciência dos que pensam, resolvia em semanas aquilo que diziam ser “impossível”.
Programei em todas e mais algumas linguagens de programação.
Projetei infraestruturas físicas, redes de dados, servidores, cloud, virtualização.
Implementei soluções onde o caos reinava.
Transformei ruínas em sistemas vivos.
Mas… nunca fui distinguido.
Mediocridade premiada, excelência ignorada
A mediocridade, essa sim, era celebrada.
Vi colegas sem rasgo subirem a pulso — não pelo mérito, mas pelas amizades, pela bajulação, pelo jogo de bastidores.
Vi os competentes serem usados… e depois descartados.
Vi quem nada sabia ser promovido por quem tudo ignorava.
Mas nunca, nunca, traí aquilo que sei fazer bem.
Nunca deixei de carregar comigo a minha exigência e o meu rigor.
E quem estava do outro lado — os clientes reais, os que precisavam de soluções e não de discursos — esses sempre reconheceram. Sempre voltaram. Sempre agradeceram.
Ser competente em Portugal é um ato de resistência
Neste país, ser competente é quase um fardo.
Pensar é perigoso. Ser eficaz, desconfortável.
E ser melhor do que a média… é quase ofensivo.
Mas eu recusei o conformismo.
Recusei o cinzento.
Recusei fazer menos do que podia — mesmo sabendo que, no final, os aplausos iriam para outros.
O meu nome talvez não esteja nas placas douradas das empresas.
Mas está nas soluções que funcionam. Nos sistemas que ainda hoje correm. Nos projetos que não colapsaram porque eu passei por lá.
E no fim, o que fica?
Fica a consciência tranquila.
Fica o orgulho silencioso.
Fica a certeza de que resisti — com lucidez, com talento e com ética.
Num país onde a mediocridade governa e a excelência é vista como ameaça, ser bom não é apenas raro — é revolucionário.
E por isso escrevo.
Porque talvez estas palavras ajudem alguém, algures, a não desistir também.
A manter-se de pé, mesmo quando o mundo à volta se ajoelha à banalidade.
“O verdadeiro prémio é olhar para trás e saber que nunca me verguei.”
Artigo autoria de ✒️Francisco Gonçalves

