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A Ascensão dos Medíocres

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Box de Factos
• Em 2012 denunciei no meu blogue a “ciência autista” da economia e os perigos do Homo economicus.
• Os economistas forneceram o catecismo para justificar más práticas de gestão.
• Partidos e elites usaram esse discurso para capturar empresas públicas e hospitais.
• Em 2025, o diagnóstico confirma-se: mediocridade e promiscuidade dominam a gestão.

De 2012 a 2025: a ascensão dos medíocres e o mito dos economistas

Um aviso escrito há mais de dez anos

Em abril de 2012, no meu blogue A Ordem e o Caos, publiquei o artigo “Por que devemos parar de ouvir economistas!”. Inspirado no movimento Autisme-de-la-économie, que surgiu em França no início dos anos 2000, critiquei a transformação da economia numa disciplina autista: desligada da realidade social, obcecada com equações e modelos matemáticos, incapaz de captar a complexidade humana.

“Afinal a ciência económica que muitos ainda professam, não é tão precisa como os economistas quiseram fazer parecer ao mundo. (…) Os resultados destas crenças, de terem feito o mundo acreditar que os comportamentos humanos poderiam ser reduzidos a simples equações, estão bem à vista de todos.”

— Francisco Gonçalves, 2012

O diagnóstico confirmado

Passaram treze anos desde essa crítica. E o que vemos hoje em Portugal e na Europa do Sul é a confirmação desse diagnóstico: uma economia que se desligou da ética e da realidade, servindo de catecismo a partidos e elites que encontraram nos “gestores de gabinete” a justificação perfeita para tomar de assalto empresas públicas, privadas e hospitais.

O economista de manual tornou-se o modelo de gestor moderno. Mas em vez de trazer eficiência e visão, trouxe mediocridade e reverência. O resultado foi a dança de cadeiras, a promiscuidade entre política e gestão e a exclusão da verdadeira excelência.

Da teoria à prática: a gestão empresarial e hospitalar

Na gestão empresarial, o fenómeno começou nos anos 80: economistas recém-formados assumiram cargos de direção sem qualquer experiência prática. Empresas públicas converteram-se em quintais partidários e as privadas reproduziram os mesmos vícios. A produtividade estagnou, os melhores emigraram, a mediocridade ficou institucionalizada.

Na gestão hospitalar, a mesma lógica foi aplicada: conselhos de administração nomeados por despachos governamentais, sem concursos vinculativos, e frequentemente entregues a militantes de partido ou académicos sem experiência em gestão hospitalar. O Tribunal de Contas e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares soaram o alarme repetidamente — mas em vão.

Um problema estrutural

Hoje, em 2025, a gestão em Portugal continua a ser dominada por este paradigma: mediocridade instalada com selo de ciência. A economia, reduzida a fórmulas, legitimou a captura das empresas e do Estado por redes políticas. E os gestores de gabinete, formados nessa ortodoxia, alimentam o ciclo de promiscuidade e incompetência.

“Os burocratas e medíocres ascenderam a todos os lugares de poder e hoje são os líderes de povos desalentados e perdidos, sem referências e governados por lideranças fracas, sem um assombro de visão ou estratégia.”

— Francisco Gonçalves, 2025

Conclusão: parar de ouvir e começar a criar

Se em 2012 pedia que parássemos de ouvir os economistas de catecismo, hoje reafirmo: precisamos de gestores que não sejam papagaios de fórmulas, mas criadores de soluções. Precisamos de líderes capazes de unir técnica e humanidade, ética e visão, inovação e pragmatismo.

O futuro não pode continuar a ser refém de mediocridade com ar de ciência. É tempo de resgatar a excelência e devolver à gestão — pública e privada — o que ela deveria ser: uma missão de serviço, criação e dignidade.

Escrito por Francisco Gonçalves em coautoria com Augustus Veritas (Lumen)
Fragmentos do Caos — 2025
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Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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