Corrupção,  Crime Organizado,  Economia Mundial,  Manipulação da verdade,  Nepotismo,  Política Internacional,  Totalitarismo

♟️ Tabuleiro Geopolítico da Europa sob a Estratégia de Putin

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Vamos imaginar o tabuleiro de xadrez europeu sob o olhar de Putin. Ele não joga damas — não procura capturar peças a direito, mas sim mover pacientemente para desequilibrar o adversário por dentro. Eis o mapa com os pontos fracos:

1. Reino Unido (já capturado parcialmente)

  • Brexit foi a jogada-mestre: divisão interna, afastamento da UE, instabilidade económica.
  • Hoje, Londres está enfraquecida e mais dependente dos EUA.
  • Peça no tabuleiro: já sacrificada, mas útil como prova de conceito.

2. Alemanha (a torre rachada)

  • Dependência histórica do gás russo (Nord Stream).
  • Elites económicas pressionam por “realismo pragmático” com Moscovo.
  • Divisão interna: Leste pró-Rússia vs. Oeste pró-OTAN.
  • Peça no tabuleiro: metade controlada (energia e indústria), metade em disputa (política externa).

3. França (a rainha desejada)

  • Marine Le Pen e outros populistas com financiamento russo.
  • Terreno fértil: protestos sociais, ressentimento contra elites, desconfiança da UE.
  • Se cair, a UE perde equilíbrio político e militar.
  • Peça no tabuleiro: alvo prioritário.

4. Itália (o cavalo oscilante)

  • Governo historicamente permeável à influência russa.
  • Dependência energética significativa.
  • Populismo e instabilidade política como porta aberta.
  • Peça no tabuleiro: útil como distração.

5. Europa de Leste (os peões avançados)

  • Hungria (Orbán) já alinhada com Moscovo.
  • Eslováquia e Sérvia também com forte simpatia russa.
  • Polónia é exceção — ferozmente anti-Rússia.
  • Peças no tabuleiro: peões que abrem caminho ao rei russo.

6. Espanha e Portugal (as margens)

  • Menor dependência energética da Rússia.
  • Mais resistentes, mas com crises económicas e desigualdade que podem ser exploradas via populismo.
  • Peças no tabuleiro: periféricas, mas vulneráveis ao “vírus populista”.

7. EUA (o rei alternativo)

  • Trump foi, e é hoje um trunfo para enfraquecer a NATO.
  • Divisões internas americanas são música para os ouvidos de Putin.

🎯 O Objetivo Final

  • Quebrar a coesão da União Europeia e da NATO.
  • Impor uma “Pax Russica” no continente, com Europa dividida, dependente energeticamente e incapaz de agir unida.

É este o xadrez da desinformação e do populismo, onde cada peça é movida não com tanques, mas com narrativas, euros escondidos e redes sociais.

E como é que a Europa, com serviços secretos, agências de contraespionagem e décadas de experiência na Guerra Fria, deixou que um homem — Putin — conseguisse infiltrar-se tão fundo?

A resposta, creio, é uma mistura amarga de ingenuidade, ganância e complacência:


1. A ingenuidade estratégica

Depois da queda da URSS, o Ocidente quis acreditar que a Rússia seria integrada num “mundo liberal e pacífico”.
Acreditou-se que o comércio e a interdependência iriam “civilizar” Moscovo. Era a ideia de “se lhes vendermos BMWs e iPhones, eles vão tornar-se democratas.”


2. A ganância económica

A Alemanha fechou os olhos à dependência energética. A City de Londres acolheu o dinheiro dos oligarcas russos sem fazer perguntas.
Bancos, imobiliárias e clubes de futebol foram lavatórios de rublos. A lógica foi: “se há lucro, não há perigo.”


3. A complacência dos serviços secretos

Os espiões existiam, mas eram usados muitas vezes como peças internas de poder, não como defesa contra manipulação externa.
Enquanto Putin afinava a máquina de guerra híbrida (ciberataques, propaganda, fake news), o Ocidente ainda estava preso ao modelo de espionagem da Guerra Fria: vigiar tanques e aviões, não bots do Twitter.


4. A fragilidade das democracias

Putin não precisou de corromper instituições centrais: bastou-lhe ampliar as divisões internas já existentes.
Populismo, ressentimento, desigualdade, desconfiança das elites — tudo isto eram brechas abertas. Ele apenas empurrou a porta.


5. O efeito da indiferença

Os governos ocidentais subestimaram a ameaça, ou fingiram que não viam.
Enquanto Putin anexava a Crimeia em 2014, os líderes europeus ainda discutiam regulamentos sobre tamanho das bananas.


👉 O resultado: não foi falta de polícia secreta, mas sim excesso de autoengano. Putin percebeu antes de nós que o campo de batalha não eram fronteiras militares, mas mentes, medos e redes sociais.


👉 Artigo da Autoria de Augustus Veritas in Fragmentos do Caos

📜 Cronograma da Estratégia de Putin (2000-2025)

2000 – O início silencioso

  • Putin chega ao poder, vendendo imagem de modernizador pragmático.
  • Conquista a lealdade dos oligarcas: liberdade para enriquecerem em troca de silêncio político.
  • O Ocidente vê nele “um reformador previsível”.

2003–2006 – Energia como arma

  • Consolida o controlo da Gazprom e Rosneft.
  • Usa gás como ferramenta política (pressões sobre Ucrânia, Polónia, países bálticos).
  • Alemanha aposta no Nord Stream: amarra-se voluntariamente a Moscovo.

2007 – O aviso de Munique

  • Discurso de Putin em Munique: acusa o Ocidente de hipocrisia e hegemonia.
  • Foi a “declaração oficial” de guerra geopolítica — mas ninguém levou a sério.

2008 – Guerra na Geórgia

  • Primeira demonstração militar pós-URSS.
  • Mensagem: Moscovo está de volta.
  • Resposta do Ocidente? Sanções simbólicas.

2010–2013 – Penetração financeira e cultural

  • Dinheiro russo invade Londres, Paris e Lisboa (clube de futebol, imóveis, vistos dourados).
  • Oligarcas russos tornam-se parte da elite europeia.
  • Os serviços secretos ocidentais alertam, mas governos preferem fechar os olhos.

2014 – Crimeia e Donbass

  • Putin anexa a Crimeia.
  • Primeira guerra híbrida: “homenzinhos verdes” sem insígnias, campanhas digitais, propaganda global.
  • O Ocidente reage com sanções leves, mas continua dependente do gás.

2015–2016 – Guerra da informação

  • Intervenção na Síria para mostrar músculo militar.
  • Criação de tropas digitais (fábricas de trolls em São Petersburgo).
  • Eleições nos EUA: campanha massiva de desinformação a favor de Trump.

2016–2020 – O laboratório do populismo

  • Apoio a partidos eurocéticos e extremistas: Le Pen (França), Salvini (Itália), AfD (Alemanha).
  • Brexit impulsionado por propaganda digital.
  • Objetivo: dividir a UE por dentro.

2021 – A escalada

  • Concentração de tropas junto à Ucrânia.
  • A Europa hesita, presa ao gás barato.
  • Putin percebe que o timing é perfeito: democracias ocidentais distraídas, populismo em alta.

2022 – Invasão da Ucrânia

  • Choque inicial, mas também teste: até onde resiste o Ocidente?
  • Sanções mais duras, mas ainda com hesitações (petróleo e gás).
  • Dependência alemã e italiana revelada em plena luz do dia.

2023–2024 – A contraofensiva psicológica

  • Enquanto a guerra se arrasta, Putin aposta no cansaço do Ocidente.
  • Propaganda: “a guerra não vale o custo”, “a Ucrânia nunca vai ganhar”.
  • Populismos em França, Alemanha e Itália voltam a ganhar terreno.

2025 – O tabuleiro atual

  • A Alemanha já está dividida, metade desconfiada do apoio à Ucrânia.
  • A França em risco de cair no populismo.
  • EUA em suspense: com Trump de regresso, NATO pode implodir.
  • Objetivo de Putin mais perto do que nunca: uma Europa fragmentada e exausta.

📌 Moral da história:
O Ocidente não perdeu por falta de espiões, mas porque confundiu Putin com parceiro económico em vez de rival existencial. Enquanto ele jogava xadrez, nós jogávamos Sudoku.


E perante isto tudo, os democratas dos EUA e da Europa estão… mas parecem muitas vezes desarmados, ou pior, divididos entre si.

👉 Eis onde tropeçam:


1. Nos EUA

O Partido Democrata existe, claro, mas luta num país onde metade da população está mergulhada numa guerra cultural interna.

Os democratas defendem a NATO, a Ucrânia, o multilateralismo.

Mas enfrentam:

Um Partido Republicano forte e com um Trump errático e isolacionista.

Um eleitorado exausto, mais preocupado com preços do supermercado do que com geopolítica.

E uma máquina de desinformação altamente eficaz que desgasta qualquer mensagem.


2. Na Europa

  • Há líderes democráticos fortes — Macron, Scholz, Sánchez, Costa (antes de cair), Von der Leyen — mas todos reféns das suas fragilidades internas.
  • Democratas europeus têm o discurso certo, mas não a coragem coordenada:
    • França dividida pelo populismo.
    • Alemanha manietada pela dependência energética.
    • Itália instável e permeável a influências externas.
    • Bruxelas burocrática, sempre lenta e hesitante.

3. O problema estrutural

  • Democracia é debate, consenso, checks and balances.
  • Autocracia é ordem unívoca, sem oposição.
  • No xadrez rápido da geopolítica, Putin joga blitz, enquanto os democratas discutem se a peça se move em “L” ou em diagonal.

4. A ausência de narrativa

  • Os democratas falam em regulamentos, sanções, relatórios.
  • Putin fala em força, honra, grandeza.
  • Resultado: o povo ouve mais alto o discurso simples e visceral do autocrata do que a linguagem tecnocrática da democracia.

⚖️ Os democratas não desapareceram. Estão aí, mas presos na teia da moderação, da hesitação e do receio de perder votos para os populismos. Enquanto isso, o autoritarismo avança sem pedir licença.


🌍 O que parece

  • As democracias estão frágeis, presas em debates intermináveis enquanto os autocratas avançam sem pedir licença.
  • A desinformação corrói a confiança nas instituições.
  • O populismo alimenta-se do ressentimento social.
  • A civilização ocidental parece cansada de si própria, sem um grande ideal mobilizador.

🔎 O que é preciso lembrar

  • A democracia já foi dada como morta várias vezes: no auge do fascismo nos anos 30, no avanço do comunismo após a guerra, durante a Guerra Fria. E sobreviveu.
  • É lenta, imperfeita, barulhenta — mas tem uma qualidade que as autocracias nunca tiveram: resiliência.
  • O Ocidente fere-se a si próprio… mas também se reinventa quando está à beira do abismo.

⚖️ Ferida de morte ou apenas cansada?

  • Eu diria que não está “de morte”, mas sim exausta, desorientada e sem projeto de futuro.
  • O que falta é uma narrativa inspiradora: não apenas defender “regulamentos e sanções”, mas acender outra vez a chama da liberdade, da criatividade e da ousadia coletiva.
  • O perigo real é que, no intervalo em que se recompõe, o espaço seja ocupado pelos autocratas — que parecem fortes, até ao dia em que colapsam.

👉 Em suma: a civilização ocidental está ferida, sim, mas ainda não é mortal. Está em coma leve, à espera de um sobressalto de coragem e de um novo sonho.

Mas as Democracias e o Ocidente ainda não sucumbiram. O sonho de liberdade e mais democracia, continua vivo nos corações dos povos Ocidentais e a Ucrânia é a prova clara, de que juntos venceremos a opressão, a tirania e as Trevas de Putin e seus aliados.


🌟 Manifesto pela Democracia do Futuro

Não, a democracia não morreu.
Ela sangra, tropeça, arrasta-se cansada pelos corredores das assembleias, sufocada em relatórios e tecnicalidades.
Mas ainda respira. Ainda guarda no peito o sopro mais precioso da humanidade: a liberdade de escolher, de discordar, de sonhar juntos.

Os autocratas parecem fortes. Gritam grandeza, prometem ordem, oferecem certezas rápidas.
Mas são fortalezas de vidro: quebram-se quando o povo perde o medo.
A democracia, pelo contrário, é um rio: pode ser lento, pode encher-se de lodo, mas continua a correr, a escavar, a abrir caminho até ao mar.

O que precisamos não é de uma democracia burocrática, feita apenas de eleições e papéis.
Precisamos de uma democracia criadora, vibrante, apaixonada, capaz de convocar não só a razão, mas também o coração.
Uma democracia que não tema a velocidade dos tempos, que saiba inovar sem perder a sua alma.

O futuro não será conquistado por regulamentos, mas por sonhos partilhados.
Não por relatórios técnicos, mas por coragem cívica.
Não por líderes solitários, mas por povos despertos.

Se o Ocidente quiser sobreviver, terá de deixar de se olhar ao espelho com nostalgia e começar a olhar para a frente com ousadia.
A democracia só renasce quando ousa prometer outra vez um futuro maior que o presente.


Por Francisco Gonçalves in September 2025

🌌 Fragmentos do Caos: BlogueEbooksCarrossel

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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