
O projecto Amália: a IA portuguesa
A Montanha de Montenegro e o Rato do Amália
– O LLM “Amália” tem 9 mil milhões de parâmetros — 20 vezes menos que o ChatGPT-4.
– Ficará restrito à administração pública, sem acesso aberto ao público.
– O nome evoca a maior voz portuguesa, mas o alcance será apenas ministerial.
Foi anunciado como um feito histórico, uma montanha tecnológica que iria projetar Portugal
para o futuro da inteligência artificial. Mas, ao descer o nevoeiro dos anúncios oficiais,
o que se revela é apenas um pequeno rato burocrático: o Amália, modelo de linguagem
com nove mil milhões de parâmetros, ficará fechado a sete chaves dentro da administração pública.
O contraste entre o nome e a realidade
A escolha de “Amália” não podia ser mais simbólica. A voz que levou Portugal ao mundo
dá nome a um projeto que, paradoxalmente, será trancado num corredor ministerial.
Em vez de ecoar para fora, ficará a cantar apenas para secretários de Estado e despachos carimbados.
O contraste é gritante: o nome evoca universalidade, mas a aplicação será local;
a voz de um povo inteiro transformada em sussurro administrativo.
Tecnologia de bolso
Com 9 mil milhões de parâmetros, o Amália é vinte vezes mais pequeno do que o ChatGPT-4.
Não é irrelevante, mas também não é disruptivo. É um projeto intermédio, a meio caminho
entre o laboratório académico e o protótipo experimental.
E no entanto foi anunciado como “supersónico nacional”.
É como prometer um avião de longo curso e entregar um drone de supermercado.
A velha síndrome nacional
Eis mais um exemplo da síndrome portuguesa: anunciar o Everest e oferecer a Serra da Carregueira.
O país vive de pequenas soluções embrulhadas em discursos épicos.
A montanha de Montenegro voltou a parir um rato, e este chama-se Amália.
Portugal precisava de uma voz para o mundo,
mas ficou com um eco abafado nos corredores da burocracia.

