
A Politiquice de sempre
- Tema: Os 100 dias de Luís Montenegro
- Declaração: “Projetámos o país para décadas” e “cotação internacional altíssima”
- Mensagem crítica: A retórica não substitui reformas estruturais
100 Dias, 100 Anos: A Nova Alquimia da Politiquice
O primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou que em apenas cem dias conseguiu projetar o país “para décadas” e que Portugal tem agora uma “cotação internacional altíssima”. Palavras fortes, que dariam inveja até a um consultor de Wall Street ou a um mágico de feira. Mas o país real não vive de frases, vive de resultados.
A retórica dos cem dias
Cem dias não chegam sequer para planear uma reforma séria na saúde ou na justiça, quanto mais para “projetar décadas”. Esta pressa em transformar slogans em épicos políticos mostra mais ansiedade comunicacional do que visão estratégica. É como vender um bilhete de lotaria dizendo que já está premiado.
A tal cotação “altíssima”
Portugal não é uma ação na bolsa de Nova Iorque. Medir a “cotação” do país em palcos internacionais é útil para discursos, mas pouco vale se cá dentro os hospitais continuam a colapsar, as escolas a degradar-se e a economia a viver de remendos. A imagem externa é importante, mas não alimenta nem cuida dos cidadãos.
Do marketing à realidade
A política portuguesa tornou-se um espetáculo de slogans. A alquimia de transformar cem dias em cem anos é apenas a mais recente versão da ilusão nacional. O problema é que a realidade insiste em desmentir o palco: salários curtos, transportes falhos, serviços lentos. O povo não vive de cotação, vive de condições.
No fundo, a frase de Montenegro resume a lógica de muitos governos: vender futuro barato enquanto o presente se degrada. A alquimia é bonita no discurso, mas cá fora o país continua a viver no improviso.

