
Redes Sociais: Agentes das Trevas
Redes Sociais: Agentes das Trevas
Como a China e a Rússia transformaram o Ocidente em refém dos seus próprios algoritmos
- Redes sociais nasceram como promessa de liberdade, mas tornaram-se arenas de manipulação.
- China e Rússia exploram as fragilidades dos algoritmos para dividir o Ocidente.
- O lucro da polarização vale mais do que a verdade ou a democracia.
I. Da Praça Pública ao Mercado do Ódio
No início, Facebook, Twitter, Reddit e outros vendiam-se como praças públicas digitais: lugares abertos, horizontais, onde qualquer voz podia ser ouvida. A promessa era luminosa: mais liberdade, mais conexão, mais democracia. Mas a realidade rapidamente se torceu. A praça tornou-se um mercado de ódios, um circo de ruído, onde a verdade perdeu espaço para o escândalo. Hoje, o que circula não é o que esclarece, mas o que inflama. O que resiste é silenciado, porque não dá lucro. A reflexão é invisível; o ruído é viral.
II. O Algoritmo Censor
Não é preciso polícias secretas nem censores fardados. Hoje a censura veste a máscara da neutralidade matemática. O algoritmo decide o que vemos e o que ignoramos. E como é alimentado por cliques e tempo de ecrã, privilegia o choque, a raiva, a divisão. Um artigo crítico, profundo, que denuncia manipulações, não “rende”. O que rende é a polémica vazia, a mentira colorida, o ódio instantâneo. O algoritmo é o novo censor: não prende escritores, mas condena-os à invisibilidade.
III. A Autocracia Descobre o Atalho
Putin e Xi compreenderam cedo que não era necessário bloquear as redes sociais ocidentais. Bastava usá-las como arma contra os seus próprios criadores. Criaram exércitos digitais de trolls e bots, fabricaram fake news, financiaram propaganda disfarçada. Enquanto as democracias discutem regulamentos de privacidade, as autocracias transformam o Facebook e o X em máquinas de corrosão política. O objectivo é claro: dividir as sociedades, semear a desconfiança, corroer a fé nas instituições. E tem resultado.
IV. A Conivência Lucrativa
As redes não são vítimas inocentes. São cúmplices. O modelo de negócio é simples: quanto mais indignação, mais cliques; quanto mais cliques, mais lucro. A verdade não é rentável. A clareza não gera engajamento. A polarização, sim. E assim, as plataformas vendem o tecido social democrático ao melhor comprador — sejam empresas de dados, sejam regimes autoritários. O lucro está acima da liberdade, e a democracia tornou-se apenas mais uma mercadoria a ser leiloada.
V. O Ocidente em Risco
O resultado é devastador: sociedades democráticas presas em guerras culturais, incapazes de encontrar consensos mínimos; cidadãos mergulhados em desconfiança generalizada; jovens intoxicados por conteúdos tóxicos que moldam percepções e matam esperanças. Tudo isto enquanto a China e a Rússia aplaudem em silêncio. Não precisam de tanques para enfraquecer o Ocidente: basta-lhes o ruído viral, o ódio replicado, a confusão permanente. O Ocidente fragmenta-se por dentro, e os inimigos apenas assistem.
VI. A Última Tocha
Mas ainda há quem escreva, quem denuncie, quem ilumine. Cada artigo censurado pelo algoritmo é, paradoxalmente, a prova de que a luz incomoda as trevas. O silêncio imposto pelas plataformas é o maior elogio ao poder da palavra. Cabe-nos segurar a tocha — mesmo que seja numa escuridão de cabos digitais emaranhados — e insistir em usá-la. Porque a verdade não precisa de ser viral para ser necessária. O Ocidente não se salvará com mais filtros, mas com mais coragem. E essa começa em cada palavra que resiste.
[ Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos do Caos.]

