
A incompetência e a indiferença nacional
- Tema: Desleixo e indiferença em Portugal
- Inspiração: Artigo de António Barreto, Público (13.09.2025)
- Autor: Francisco Gonçalves / Augustus
- Mensagem: O problema não é o acidente, mas o sistema que o permite
Desleixo e Indiferença
O acidente do Ascensor da Glória deixou marcas visíveis e invisíveis. Para as vítimas e famílias, foi dor crua e insuportável. Para o país, deveria ter sido um sinal de alarme. Mas o que vimos depois — a sucessão de desculpas, a pressa em relativizar, a ausência de responsabilidades — mostra o velho retrato de um sistema onde a indiferença pesa mais do que a vida humana.
Não foi o ferro que cedeu, nem o cabo que partiu que mais me impressionaram. Foi a coreografia previsível do pós-acidente: relatórios apressados, autoridades em pose institucional, declarações sem alma. Uma vez mais, o país finge que foi apenas azar. Mas não foi azar. Foi desleixo.
Um hábito português
Temos a estranha tendência de aceitar a tragédia como se fosse uma inevitabilidade. Chamamos-lhe “fatalidade”, quando na verdade é o resultado de escolhas políticas, cortes orçamentais, negligências acumuladas. Um país não se mede apenas pelo que acontece, mas sobretudo pelo que faz depois de acontecer. E aqui, falhamos vezes demais.
Instituições que não sentem
As lágrimas das vítimas não encontram eco nas instituições. O Estado reage com papéis, comissões e promessas. Nunca com indignação verdadeira, nunca com uma assunção de culpa. E assim se perpetua o ciclo: a máquina protege-se, o povo habitua-se, e o desleixo continua a corroer a confiança de todos.
Enquanto o tempo passa
Talvez noutros países também aconteça o mesmo. Mas isso é irrelevante. O que importa é que na nossa casa continuamos a tratar a dor como rotina. Até ao próximo desastre, até ao próximo “foi o destino”.
No fundo, o que dói não é só o acidente em si. É a certeza amarga de que, se nada mudar, estaremos sempre a escrever o mesmo epitáfio coletivo: Portugal, país do desleixo e da indiferença.

