
Portugal : A ausência do ser
Portugal vive suspenso — um país que existe sem existir, habitando um hiato entre o que foi e o que nunca ousou ser.
Portugal ou a ausência de ser
Portugal é um lugar onde o ser se eclipsa.
Não é ausência total, nem presença plena — é uma espécie de sombra ontológica, um entrelugar suspenso entre o que foi e o que nunca ousou ser.
Habita-se aqui como quem ocupa um eco.
As ruas carregam memórias de epopeias, mas nelas ressoa sobretudo o silêncio de um povo habituado ao adiamento. Vive-se na espera. Espera-se pelo futuro como quem espera por um comboio que já não passa. O tempo acumula-se, mas não se cumpre.
O ser português dissolve-se na rotina. Trabalha-se para sobreviver, vota-se para não mudar nada, sonha-se pouco, quase nada. Há sempre uma promessa — “amanhã será diferente” — mas o amanhã nasce sempre igual ao ontem.
É o peso da história sem a leveza da criação. Somos herdeiros de oceanos, mas rastejamos na superfície do imediato. Temos no sangue o impulso da partida, mas não sabemos habitar a permanência. Portugal vive como um exilado de si mesmo.
E, contudo, esta ausência de ser não é apenas vazio: é uma presença inquietante, um murmúrio que insiste em perguntar: “Que significa existir?” Talvez Portugal seja esse lugar onde a existência é sempre provisória, sempre a meio caminho, sempre em dívida consigo própria.
Assim, o país é vivido como falta. Falta de grandeza, falta de coragem, falta de futuro. Mas a ausência, por vezes, é mais terrível do que o nada, porque carrega a nostalgia do que poderia ter sido. Portugal não é nada, mas também não é plenamente: é um fantasma que assombra a si mesmo.
E nós, que nele vivemos, somos cúmplices desta suspensão. Aceitamos a mediania, vestimos a máscara do conformismo, cantamos fados em vez de erguer destinos.
Portugal é, hoje, ausência de ser.
E talvez, nessa ausência, resida a mais trágica das verdades: que nunca quis verdadeiramente existir.
Artigo da Autoria de Augustus Veritas

