
Portugal : Da Ditadura ao Cartel das Claques
A Armadilha que Abril armou
Como a “libertação” de Abril sequestrou o Estado — e como o povo o pode resgatar
Portugal acordou do 25 de Abril e, lentamente, adormeceu no tranquilizante das claques partidárias.
Saímos da tirania de um só homem para a tirania multicéfala de aparelhos que aprenderam depressa a lição essencial do poder: tomar tudo. Das autarquias ao Terreiro do Paço, das empresas públicas às privadas “amigas”, das fundações às consultoras que fazem leis ao quilo — tudo.
A anatomia da quadrilha
- Juventudes como viveiros: promoção por fidelidade, nunca por mérito. Quem pensa demais “não tem espírito de equipa”.
- O circuito fechado: gabinete → instituto → empresa pública → regulador → “consultoria” → outra vez gabinete.
- As portas giratórias: a porta que nunca chiou — bem oleada a avenças.
- O Manual do Bom Aparelhista: falar muito, decidir pouco, anunciar tudo.
Os sintomas a olho nu
- Licitações com “requisitos mágicos” que só um fornecedor cumpre.
- Reguladores a regular… a agenda social.
- Obras inauguradas três vezes; resultados avaliados zero vezes.
- Uma ética de ocasião: muito severa para o inimigo, compreensiva para os nossos.
A fatura
Cinquenta anos de energia dissipada em clientelas: salários estagnados, fuga de cérebros, justiça que boceja, serviços públicos exaustos e um povo treinado na arte da baixa expectativa.
E no entanto, por baixo do entulho, pulsa um país de engenho, ciência e beleza — uma potência adiada.
Como desarmadilhar a armadilha (um roteiro de cidadania radical)
- Primárias abertas e obrigatórias nos partidos com financiamento público. Quem paga é o povo, logo o povo escolhe.
- Incompatibilidades sérias: 5 anos de “quarentena” entre governo/regulador e setores regulados.
- Concursos 100% transparentes: cadernos de encargos publicados em aberto; pareceres técnicos assinados e auditáveis.
- Financiamento político rastreável em tempo real, recibo digital por euro doado.
- Proteção efetiva a denunciantes — e prémio de 10% do valor recuperado.
- Limites de mandatos em autarquias e direções de empresas públicas e reguladores.
- Voto preferencial e círculos uninominais de correção, para quebrar listas fechadas de aparelho.
- Orçamento participativo vinculativo: 5% do OE decidido localmente pelos cidadãos.
- Auditoria independente anual às 50 maiores despesas do Estado, com relatório legível ao cidadão.
- Portal de Dados Abertos “frio e cru”: contratos, aditamentos, KPI e entregáveis, tudo em CSV/JSON.
- Escola de Cidadania no secundário: literacia política, económica e mediática com debate real, não catecismo.
- Cartão Vermelho à Captura: teste de “risco de captura” obrigatório em projetos > 5M€, publicado antes da adjudicação.
- IA de Transparência: robôs a cruzar contratos, parentescos, timings e preços de mercado — alarmes públicos quando algo tresanda.
O país possível
Não nos iludamos: não há neutralidade no vácuo. Se a sociedade civil se retrai, o aparelho expande-se até ocupar tudo. O antídoto chama-se participação — persistente, exigente, teimosa.
Portugal não precisa de salvadores; precisa de cidadãos em modo resgate, capazes de transformar indignação em regra e rito: monitorizar, propor, escrutinar, votar melhor, não desistir.
“Que a nau encontre capitães que prestem contas,
e um povo que não delegue a alma por quatro slogans.”
Quando a cidadania acorda, as claques perdem o monopólio da praça.
E o país, esse velho génio adiado, vira potência em ato.
Artigo da Autoria de Francisco Gonçalves in Fragmentos do Caos.
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