
Incêndios em Portugal: Fogo Digital, Resposta Analógica
Todos os verões, o guião repete-se com a precisão de um relógio suíço: o país arde, as televisões enchem-se de imagens de aldeias cercadas, e os presidentes de câmara e juntas de freguesia correm para os microfones com a ladainha habitual:
“Precisamos de mais meios, mais recursos, mais apoio.”
Mas quando se pergunta “que meios?”, a resposta raramente ultrapassa o óbvio:
– Enxadas.
– Motores de rega.
– Mangueiras improvisadas.
– Mais voluntários de boa vontade.
É como se estivéssemos a combater incêndios do século XXI com ferramentas do século XIX.
O Fogo é Digital, mas a Resposta é Analógica
Enquanto os fogos se multiplicam por fenómenos complexos — desde clima extremo a ignições quase sincronizadas — a resposta institucional parece saída de um manual agrícola de 1950.
Ouvimos falar em alterações climáticas como desculpa, mas não em tecnologia como solução.
Onde estão:
- Os drones de vigilância em tempo real?
- As torres de monitorização com inteligência artificial?
- Os sensores de humidade e calor que preveem ignições?
- O ordenamento florestal que nunca saiu do papel?
Nada disso aparece. O que aparece é sempre o mesmo pedido: “mais meios”, como se fosse possível apagar um inferno com baldes de água.
A Choradeira Oficial
O mais revoltante é que os autarcas já vão para a televisão preparar a desculpa do futuro:
– “As alterações climáticas estão aí, nada a fazer.”
– “O fogo vai ser sempre uma realidade.”
– “Precisamos de mais recursos.”
É uma rendição disfarçada de lamento. Um povo condenado ao fumo eterno porque os seus líderes não têm coragem para atacar o problema de frente: prevenção, planeamento, tecnologia e responsabilização.
Conclusão Satírica
Portugal continua a enfrentar incêndios como quem enfrenta uma tempestade divina: de joelhos, com uma enxada na mão, e a rezar para que chova.
Enquanto o fogo é global, tecnológico e devastador, a resposta continua a ser paroquial, artesanal e resignada.
No fim, sobra sempre a mesma frase para justificar o fracasso:
“Não tínhamos meios suficientes.”
Pois não. Nem nunca terão, enquanto confundirem enxadas com estratégia e mangueiras com futuro.
👉 Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos.
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