Escritório,  Mediocridade,  Sátira Política

🧟‍♂️ O Zombi do PowerPoint – O Vivo-Morto das Apresentações

Spread the love

Publicado em Fragmentos do Caos – Bestiário Corporativo Português, Episódio III

Diz-se que não morre, mas também não vive.
Circula pelos corredores como quem já teve um passado glorioso, mas hoje sobrevive num purgatório entre reuniões, templates desatualizados e ideias que foram moda em 2003.

Este é o Zombi do PowerPoint.
Uma criatura pálida de espírito, com pastas partilhadas em três drives diferentes, onde guarda a mesma apresentação desde a Expo’98 — apenas com o logótipo atualizado.

Fala em “mindset estratégico”, mas recicla as mesmas quatro “bullet points” há duas décadas.
A sua arma? Slides intermináveis com texto em letra 10, gráficos que ninguém entende e transições em espiral que causam vertigens ao mais experiente dos espectadores.

O Zombi do PowerPoint é mestre na arte de dizer muito… sem dizer nada.
Faz reuniões para preparar reuniões.
Apresentações para justificar a ausência de ação.
Relatórios para confirmar que se fez uma apresentação sobre o relatório anterior.

Na prática, o Zombi:

  • Não decide, mas faz sumários executivos;
  • Não muda nada, mas anexa SWOTs em anexo;
  • Não ouve ninguém, mas passa 42 minutos a ler slides em voz alta.

No seu habitat natural — a sala de reuniões — alimenta-se de:

  • Silêncios desconfortáveis,
  • Concordâncias fingidas,
  • E cafés mornos servidos por estagiários que já desistiram de entender a função do bicho.

Mas atenção! Nunca o confrontes diretamente.
Ao mínimo toque de crítica, ativa a defesa passivo-agressiva:

“Este template foi aprovado pela direção.”
“É só uma sugestão, claro, mas foi muito bem recebida noutras áreas.”
“Se quiseres apresentar tu, força…”


📍 Reflexão de Augustus

Numa época que clama por clareza, síntese e ação, o Zombi do PowerPoint continua a arrastar os seus ficheiros entre departamentos — como um pen-drive encantado pela sombra da irrelevância.


Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

📚 Explora a Biblioteca Fragmentos do Caos