Democracia e Sociedade,  Justiça e Democracia

Democracia de Silêncio: Quando o Jornalista é o Réu

Vivemos numa democracia em que o cidadão já não manda. O povo assiste, calado e anestesiado, a um sistema onde os partidos gritam, os reguladores obedecem e os jornalistas são disciplinados por ousarem perguntar.

O caso é claro e vergonhoso: o líder do PCP sente-se ofendido com uma pergunta de José Rodrigues dos Santos, em plena entrevista na RTP — um canal público, pago por todos. A pergunta era legítima, necessária e, sobretudo, jornalística. Mas num sistema capturado, o papel do jornalista já não é questionar o poder, é confortá-lo.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) — esse monstro burocrático que nunca defende o público mas sempre os poderosos — decide, com toda a sua reverência institucional, dar razão ao PCP. Porque, no fundo, já não há independência. Há medo. Há reverência. Há uma cultura de censura camuflada de zelo democrático.

A mensagem é claríssima: jornalistas, não incomodem os partidos. Não perguntem o que deve ser perguntado. Façam entrevistas decorativas, sigam o guião, não levantem poeira. A democracia portuguesa tolera o jornalismo — mas só se este for domesticado.

A ERC, que deveria defender o interesse do cidadão e a liberdade de imprensa, ajoelha-se. E ao ajoelhar-se perante um partido político, compromete o seu papel, o seu prestígio e a própria essência do serviço público.

Enquanto isso, o povo — esse mesmo povo que paga impostos, que sustenta os media públicos, que financia a máquina do Estado — continua fora do sistema. Sem voz. Sem rede. Sem defesa.

O sistema já não responde ao povo. Responde aos partidos, às clientelas, às máquinas instaladas que se protegem mutuamente.

E quem ousa perguntar… é punido. Porque nesta democracia viciada, a pergunta certa é a maior ameaça.

José Rodrigues dos Santos não errou. Apenas teve a ousadia de ser jornalista num país onde o jornalismo livre é cada vez mais um ato de resistência.

Artigo criado, Francisco — com a crítica dura e afiada que o momento exige. Um verdadeiro murro na mesa contra a censura disfarçada de regulação e contra o silêncio imposto a quem ainda ousa fazer jornalismo.

Por Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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