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Europa: o continente que desaprendeu a competir


Nos anos 1980 e 90, a Europa ainda tinha voz na tecnologia global. Fabricava computadores. Desenvolvia sistemas operativos. Produzia inovação, e não apenas regulação. Países como França, Alemanha, Reino Unido, Itália e até Portugal tinham empresas no setor dos mainframes, workstations, sistemas Unix, CADs, computação gráfica, e telecomunicações digitais.

Havia promessas. Havia ambição. Havia futuro.

Hoje, esse futuro morreu. E a Europa tecnológica é um deserto.

De potência a cliente

A lista é longa e embaraçosa:

  • A Bull francesa, que produzia mainframes e sistemas Unix próprios. Morta.
  • A ICL britânica, pioneira em computadores administrativos, mainframes, sistemas departamentais, estações gráficas e PC Absorvida e esquecida.
  • A Siemens Nixdorf, gigante germano-europeu em software e hardware. Desmantelada.
  • A Olivetti, que fabricava desde PCs a sistemas operativos proprietários. Irreconhecível.
  • A Thomson-CSF, com soluções próprias de UNIX e CAD/CAM. Desapareceu.

Mesmo iniciativas pan-europeias como o X/Open, o SCO Unix europeu, ou a colaboração para chips SPARC, nunca foram além do protótipo ou do nicho. E quando a revolução da Internet chegou, os EUA tomaram tudo — com o Google, a Apple, a Microsoft, a Amazon, o Facebook e agora a OpenAI.

A Europa? Ficou com regulamentos, estudos de impacto, “roadmaps tecnológicos”… e pouca coisa para mostrar ao mundo.

O que falhou?

  1. Excesso de Estado e falta de risco.
    Onde os americanos lançam startups, a Europa cria comissões.
  2. Medo da falha.
    Nos EUA falhar é currículo. Na Europa é sentença.
  3. Burocracia entranhada.
    Qualquer projeto precisa de meses de análise, concursos, pareceres — e chega tarde.
  4. Fuga de cérebros.
    Os melhores engenheiros europeus trabalham… para empresas americanas.
  5. Falta de escala.
    Fragmentação nacional torna impossível competir com gigantes integrados dos EUA e China.

Onde estão os produtos?

A Europa ainda lidera em robótica industrial (Alemanha), engenharia aeronáutica (Airbus), e alguns nichos científicos. Mas não há um único produto de consumo de referência mundial em software ou inteligência artificial criado na Europa nas últimas duas décadas.

Nem um.

A esperança? Reaprendermos a errar

O futuro da Europa dependerá da sua capacidade de reaprender a errar, a arriscar, a construir.
De deixar de ser apenas cliente do mundo digital e voltar a ser arquiteta de soluções.

Mas para isso, é preciso coragem.
E essa, infelizmente, é mais rara que fundos comunitários.


Por Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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