Nos últimos anos, Portugal tem assistido a um agravamento alarmante da corrupção, do nepotismo e do abuso de poder dentro do regime político dominado pelos partidos. O mais recente Índice de Perceção da Corrupção revelou que o país atingiu o seu pior resultado de sempre, destacando-se pela negativa na Europa Ocidental. Esta realidade não é um acaso, mas sim o resultado de um sistema político que se tornou refém dos interesses partidários e da perpetuação de uma elite que governa para si mesma.

Perante este cenário, é imperativo colocar em cima da mesa uma questão fundamental: o atual regime político ainda serve os interesses do povo português? Ou chegou o momento de o povo decidir se quer continuar com esta estrutura ou reformá-la profundamente?

O Problema: Um Regime Fechado e Corrompido

Portugal vive hoje sob uma partidocracia, onde os partidos políticos controlam todas as esferas do poder: legislativo, executivo e até mesmo órgãos independentes. O problema central deste modelo é que ele não serve a população, mas sim a sobrevivência e os interesses dos próprios partidos. Entre os principais sintomas desse declínio, podemos destacar:

• Nepotismo e tráfico de influências – Os partidos funcionam como clubes fechados onde cargos públicos são distribuídos entre amigos, familiares e aliados políticos, sem mérito real.
• Corrupção sistémica – Os sucessivos escândalos mostram que o abuso de cargos públicos para enriquecimento pessoal se tornou uma prática recorrente.
• Ausência de renovação política – Os mesmos nomes circulam há décadas no poder, passando de ministérios para empresas públicas e voltando à política, num ciclo vicioso de favoritismo.
• Impunidade – Quando um político é apanhado em corrupção, raramente sofre consequências sérias. Mesmo quando condenado, retorna à vida política anos depois.
• Desconexão com a população – O povo apenas vota de quatro em quatro anos, sem qualquer mecanismo real de fiscalização entre eleições.

Diante dessa realidade, a pergunta inevitável é: por que manter um sistema que claramente não funciona?

A Solução: Devolver o Poder ao Povo

A única forma legítima de decidir o futuro político do país é através de um referendo nacional que pergunte aos portugueses se querem manter este regime ou substituí-lo por um modelo mais transparente e democrático.

O referendo poderia apresentar três alternativas:

1. Manter o regime atual, com ajustes mínimos.
2. Reformar profundamente o sistema, criando novas regras para limitar o poder dos partidos e aumentar a fiscalização.
3. Criar um novo modelo político, reduzindo drasticamente o papel dos partidos e permitindo um sistema mais direto e transparente.

Se o povo decidisse pela mudança, o passo seguinte seria a eleição de uma Assembleia Constituinte, composta por cidadãos independentes e especialistas, para reformular completamente o sistema político português.

Propostas para um Novo Sistema Político

Caso a população opte pela mudança, algumas reformas essenciais poderiam incluir:

1. Fim da Partidocracia e Mais Candidaturas Independentes

Hoje, praticamente todos os cargos eletivos passam pelo crivo dos partidos, o que perpetua a concentração de poder. É necessário facilitar candidaturas independentes para todos os cargos políticos, permitindo que cidadãos competentes, sem ligações partidárias, possam concorrer em igualdade de condições.

2. Responsabilização Criminal e Patrimonial de Políticos Corruptos

Atualmente, a corrupção compensa. Qualquer político condenado por corrupção deveria perder permanentemente o direito de exercer cargos públicos, além de ser obrigado a devolver todos os bens adquiridos de forma ilícita.

3. Transparência Total no Financiamento dos Partidos

O dinheiro que financia os partidos e campanhas eleitorais deve ser 100% transparente e auditado por entidades independentes, impedindo que empresas e grupos de interesse comprem influência política.

4. Mandatos Limitados e Fim do Carreirismo Político

Para evitar que políticos façam da política um meio de vida, os mandatos deveriam ser limitados, impedindo que as mesmas pessoas ocupem cargos públicos por décadas.

5. Reforma do Sistema Eleitoral

A introdução de círculos uninominais permitiria que os cidadãos escolhessem diretamente os seus representantes, ao invés de votar em listas fechadas decididas pelos partidos. Isso tornaria os deputados mais responsáveis perante os eleitores, e não apenas perante as cúpulas partidárias.

6. Democracia Direta e Maior Fiscalização Popular

O modelo atual dá ao povo apenas o direito de votar a cada quatro anos, sem mecanismos reais de participação no meio do mandato. Soluções como referendos frequentes, iniciativas populares e orçamentos participativos poderiam dar à população um papel mais ativo na tomada de decisões.

O Desafio: Como Despertar a Consciência Popular?

O maior obstáculo para essa reforma é a apatia da população. Muitos portugueses estão desiludidos e descrentes na possibilidade de mudança. No entanto, a história mostra que nenhuma transformação acontece sem mobilização popular.

O primeiro passo seria a criação de um movimento cívico apartidário, que promovesse debates, divulgasse informações e pressionasse para a realização do referendo. Este movimento poderia utilizar:

• Redes sociais e plataformas digitais para espalhar informação e conscientizar a população.
• Eventos públicos e debates para discutir as falhas do sistema e apresentar alternativas.
• Petições e iniciativas populares para exigir do Parlamento a realização do referendo.
• Alianças com setores da sociedade civil, como juristas, economistas e intelectuais, para reforçar a legitimidade da proposta.

Conclusão: O Momento de Agir é Agora

Portugal não pode continuar a ser governado por um sistema político falido, dominado pela corrupção e pelo nepotismo. Se os partidos políticos se recusam a mudar, então o povo deve ter o direito de decidir o seu próprio futuro.

O referendo sobre a reforma do regime político seria a forma mais democrática de resolver esta questão. Se os portugueses querem continuar com este modelo, que seja por escolha própria e não por imposição de uma elite política que governa para si mesma.

O desafio agora é mobilizar a sociedade e quebrar o ciclo da apatia. A mudança só virá se os cidadãos se unirem para exigir um sistema que verdadeiramente os represente.

Francisco Gonçalves

E-mail : francis.goncalves@gmail.com

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