
A Injustiça dos Injustiçados de Luxo
Vivemos num país onde as figuras públicas — essas entidades semideificadas pela televisão e pelos copos em bares de luxo — vivem num paradoxo comovente: querem os benefícios da fama, mas rejeitam as consequências da visibilidade.
Querem contratos de publicidade, presenças pagas, entrevistas glamorosas, jantares com autarcas e selfies com ministros. Mas, mal tropeçam num processo judicial, gritam aos céus:
“Estão a julgar-me na praça pública!”
Coitadinhos. São vítimas. Vítimas do Ministério Público, da imprensa maldosa, das redes sociais… E, claro, do “segredo de justiça” — essa entidade quase mitológica que os impede de limpar o nome que, afinal, tinham já sujado com cartão Visa, offshores ou contratos públicos com sabor a compadrio.
🚨 A nova profissão de luxo em Portugal é: “Indignado de Gravata com Acesso à TV”.
Dão entrevistas indignadas, contratam advogados mediáticos como se fossem estrelas de Hollywood em filme de tribunal, e ensaiam expressões de sofrimento profundo para as câmaras.
No fundo, o que querem não é justiça: é redenção pública sem julgamento. Querem a beatificação preventiva.
Enquanto isso, o cidadão comum — esse que paga impostos, não tem amigos juízes nem conheceu ninguém na política — vê processos a arrastarem-se durante 10, 15, 20 anos. Assiste a prescrição após prescrição como quem vê a chuva cair em Agosto: já não se surpreende, só se entristece.
Porque em Portugal, justiça lenta é justiça para ricos.
Justiça rápida… é para quem rouba um frango ou um pacote de arroz.
E a grande ironia é esta: Quando, finalmente, são absolvidos por falta de prova ou por vício processual, surgem a dizer que “a justiça funcionou” e que “foi tudo um mal-entendido”. Mas durante os 10 anos anteriores, diziam que a justiça era perseguidora, política, injusta.
Querem ser inocentes sem ser julgados e vítimas sem consequências.
Francisco Gonçalves & Augustus Veritas,
cronistas da lucidez em tempos de teatro social.
“Em Portugal, os inocentes mais convictos são sempre os que têm advogados de 5 mil euros à hora e casas no Estoril. Curiosamente, nenhum deles se lembra do Código Penal até ser apanhado com a mão no saco — ou na conta nas Ilhas Caimão. Aí, transformam-se em poetas da vitimização, mártires da opinião pública, e vítimas do segredo de justiça. Que azar o deles, nascerem famosos e com esquemas fiscais tão fotogénicos!”
- Augustus Veritas

