Burocracia,  Corrupção,  Democracia e Sociedade

Porque os Políticos Não Reformam, e o País Apodrece em Silêncio

Todo o país que evita reformas profundas vive de cosmética e adia a ruína. Portugal, infelizmente, tornou-se especialista nessa arte da ilusão. Pintam-se paredes com tinta barata enquanto a estrutura racha. E quando perguntamos por que razão os políticos não mudam o que tem de ser mudado, a resposta não está apenas na ideologia — está no instinto de sobrevivência. O deles.

1. Reformar é impopular. E o medo de perder votos é maior que o amor pelo país.

Reformas a sério mexem com as entranhas do sistema. Exigem cortar privilégios, confrontar corporações, eliminar desperdícios. Mas isso gera resistência. Gera protestos. Gera votos perdidos. E para a maioria dos nossos governantes, isso é inaceitável.

Governar para quatro anos, eis o ciclo vicioso.
Pensar em décadas? Isso só interessa aos que sonham — e os sonhadores não mandam.

2. Porque o poder real está nos bastidores.

Há uma teia invisível mas poderosíssima que manda mais do que os ministros: lobbies empresariais, farmacêuticas, bancos, construtoras, grupos privados da saúde e da educação. Muitos políticos portugueses são peças substituíveis de um jogo maior, onde quem financia campanhas espera retorno. Quem regula, muitas vezes, já foi regulado.

E assim o país vai sendo gerido como um negócio onde o cliente — o cidadão — é um detalhe.

3. Porque os partidos são trincheiras de obediência, não escolas de mérito.

Em vez de selecionarem os melhores, os partidos filtram os mais obedientes. Não se premiam ideias, premia-se a fidelidade ao chefe, ao grupo, à máquina. Quem ousa propor, criticar, reformar? Fica à margem. Os que sobem são os que repetem, acenam e votam em bloco.

A inteligência foi dispensada.
A mediocridade aprendeu a governar.

4. Porque o povo está cansado. E o cansaço mata a esperança.

Os portugueses esperam há décadas por justiça rápida, por saúde digna, por transportes eficientes, por impostos que não os esmaguem. E o que recebem? Reformas parciais, remendos e promessas recicladas. A indiferença alastra como uma erva daninha. Muitos já não protestam — suspiram.

Um país onde o desânimo se institucionalizou é um país refém do conformismo.

5. Porque o próprio sistema está desenhado para se auto-imunizar.

Burocracia, pareceres, tribunais lentos, leis contraditórias. Tudo parece criado para impedir que algo mude de forma eficaz. O Estado é um labirinto que engole quem tenta limpá-lo. E mesmo os bem-intencionados acabam esgotados, marginalizados… ou cooptados.


E no meio deste silêncio das reformas, o país apodrece devagar.

Hospitais onde as urgências fecham, escolas onde os professores fogem, tribunais onde os processos envelhecem. Tudo a funcionar — mas mal. Tudo a resistir — mas pouco. A mediocridade tornou-se sistema. E o sistema tornou-se invencível porque a maioria já não acredita que se possa vencê-lo.

E no entanto…
Um país que não reforma é um país que não respira.
E um dia, sufoca.


Francisco Gonçalves


Porque há silêncios que precisam ser gritados.


Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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