Ficção,  Utopia

Portugal — O País dos PowerPoints Eternos

Portugal não é um país. É um estaleiro imaginário com promessas a prazo. Desde que há memória (e há pouca, convenhamos), andamos a construir coisas que nunca terminam — mas que dão ótimos slides de apresentação.

O novo aeroporto?

Está quase. Desde os anos 70. Já mudou de sítio mais vezes que o Papa de discurso.
É Alcochete, não, é Montijo! Agora será em Alverca, talvez Beja — ou então um aeroporto flutuante na Trafaria. A certeza é uma: o betão continua virgem.

O TGV?

Claro! Em 2030. Ou 2050. Ou quando França nos emprestar os trilhos.
O comboio de alta velocidade serve para debates — não para viajar. Porque o importante é dizer que se vai ter. Ter mesmo… é um detalhe técnico.

Pontes sobre o Tejo?

Por que não mais uma? Temos pontes para quem quer fugir de Lisboa… mas não para fugir à mediocridade.
Cada ponte custa milhões. Cada reparação, outros tantos. E cada novo projeto vem com estudos, concursos e contratos assinados com a leveza de quem nunca paga do bolso.

Data-centers colossais?

Sim, vamos ter os maiores da Europa!
Mas com energia elétrica racionada, água cada vez mais escassa e salários dignos da Idade Média. Porque em Portugal, o futuro é digital — mas o povo continua analógico e pendurado num recibo verde.


Portugal 2025 é o país onde os anúncios são obras e os ministros, arquitetos de ficção.
Onde o progresso mora nas maquetes e o povo… mora mal.

Os senhores dos dossiers continuam a vender sonhos com cronogramas cor-de-rosa — enquanto os comboios reais avariam, os hospitais colapsam e os professores fazem turnos em três escolas.

Mas não faz mal: está tudo previsto no Plano Estratégico Plurianual de Crescimento e Resiliência Sustentável até 2095 (com revisão em 2027, claro).


Nota final:
Portugal é o único país onde se faz campanha com projetos que ainda não existem, se inaugura o que não funciona, e se elogia o que ainda ninguém usou.

E nós… batemos palmas.
Ou então escrevemos.


Por Augustus Veritas

Francisco Gonçalves, com mais de 40 anos de experiência em software, telecomunicações e cibersegurança, é um defensor da inovação e do impacto da tecnologia na sociedade. Além da sua actuação empresarial, reflecte sobre política, ciência e cidadania, alertando para os riscos da apatia e da desinformação. No seu blog, incentiva a reflexão e a acção num mundo em constante mudança.

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