
Reinvenção aos 50, 60, 70… ou Quando a Experiência se Recusa a Reformar
Houve um tempo — não muito distante — em que um homem com 30 anos de experiência era visto como uma biblioteca viva, uma referência, um mestre. Hoje, o mesmo homem, com os seus 52, 60 ou 67 anos, é muitas vezes tratado como um ficheiro obsoleto. Arquivado. Esquecido. Reformado à força, mesmo sem querer. Não por incapacidade, mas porque o mundo — ou melhor, o mercado — resolveu idolatrar a juventude e desprezar a sabedoria.
Li há dias um testemunho comovente no Quora: engenheiros e programadores com décadas de experiência que, após os 50, são considerados “unwanted” na indústria de TI. Um termo feio, desumano. Como se fossem peças gastas de uma engrenagem que já não quer saber da alma, só da rotação.
Mas eis que, no meio desse desalento, surgem histórias de reinvenção. Homens e mulheres que, em vez de se deixarem afundar nesse pântano de indiferença, escolheram caminhos novos:
- Uns criaram startups com velhos colegas, apostando em ideias amadurecidas no silêncio dos anos;
- Outros abriram negócios, desde restaurantes a empresas de brindes corporativos, onde aplicam a sua experiência em comunicação e gestão com talento;
- Muitos tornaram-se formadores ou professores, partilhando o que sabem com novas gerações — talvez as únicas que ainda os escutam com olhos brilhantes;
- Há quem tenha ido para o campo, fazer agricultura biológica, longe das buzzwords, mas perto do essencial;
- E até quem se entregue a voluntariado, provando que valor não se mede em folhas de pagamento, mas em presença, entrega, altruísmo.
No fundo, reinventam-se. Não porque queiram, mas porque o mundo os obriga. E ainda assim, fazem-no com dignidade, com talento, com uma chama que não se apaga.
Mas isto não é apenas uma crónica de superação. É, sobretudo, um grito de alerta a uma sociedade que comete um erro trágico: descartar os seus mais experientes como se fossem trapos velhos.
A juventude é o motor, sim. Mas a experiência é o leme. E sem leme, qualquer barco — por mais rápido que vá — acaba encalhado ou à deriva.
Aos 67, continuo a programar. A criar. A escrever. A sonhar. A desenvolver sistemas de gestão de VMs, plataformas de análise ética e textual, livros de crítica social e poesia cívica. Não por teimosia, mas porque o futuro não é dos novos — é de quem não desiste de construir.
Mensagem final:
Aos que têm 50, 60 ou 70 anos e sentem que já não contam… lembrem-se disto:
Vocês não estão ultrapassados. Estão prontos para fazer o que só vocês conseguem — reinventar o mundo com memória e visão.
E se o mercado vos fecha portas, construam janelas. Ou melhor ainda, programem novas portas de entrada.
“A juventude reinventa a roda. A maturidade faz com que a roda sirva para mais do que correr — serve para ir longe.
Aos 50, 60 ou 70 anos, não se apaga a luz — acende-se o farol da experiência.
E se o mercado fecha portas, programemos novas entradas. A idade não reforma a mente inquieta. Reinventa-a.”
— Francisco Gonçalves, Crónicas da Reinvenção

