
Portugal, a Excepção que se Esvaiu: Lições de Paul Collier sobre Dívida, Democracia e Desilusão
Por Francisco Gonçalves e a co-autoria de Augustus Veritas
Há duas décadas, Paul Collier, economista britânico de renome, escreveu um livro que abalou consciências: The Bottom Billion — em português, Os Milhões da Pobreza. Nele, desmontou mitos sobre desenvolvimento e alertou para um paradoxo incómodo: a democracia, por si só, não salva países pobres do colapso económico, e muitas vezes até acelera esse declínio.
No meio do nevoeiro africano e dos pós-golpes asiáticos, Collier apontou uma exceção inesperada — Portugal. Sim, Portugal. Um país que, ao contrário da regra, saiu da ditadura para a democracia e conseguiu reduzir a dívida pública. Uma raridade histórica. Uma nota de esperança num livro repleto de tragédias orçamentais.
📉 A regra: Democracias endividadas, estados frágeis
Collier observou que, em muitos países, o fim da ditadura trouxe promessas a crédito. Eleições livres vieram acompanhadas de populismo fiscal, aumento da despesa e explosão da dívida pública. As massas, famintas de direitos negados por décadas, exigiam tudo de imediato. Os governos, ansiosos por votos, abriam os cofres — mesmo sem ter com que os encher.
Resultado? Dívida galopante, inflação, fuga de capitais e… regressão. A democracia nascia, mas sem alicerces sólidos, ruía à primeira rajada de má governação.
🇵🇹 A exceção portuguesa
E Portugal?
Portugal viveu 48 anos de ditadura. Um regime que, com mão de ferro, impôs rigor orçamental salazarista, muitas vezes à custa do povo. Mas quando chegou o 25 de Abril, Portugal não caiu, como tantos esperavam, no abismo financeiro.
Houve turbulência, sim. Nacionalizações apressadas, inflação descontrolada, dois resgates do FMI. Mas, na década de 1980, algo notável aconteceu: Portugal estabilizou.
- A adesão à CEE em 1986 trouxe fundos estruturais.
- Os governos da época aplicaram reformas estruturais.
- E, sobretudo, a dívida pública como percentagem do PIB caiu. Num mundo onde quase todos os novos regimes democráticos se afundavam em défices, Portugal navegava com alguma mestria.
Foi essa a lição de Collier: a democracia só resulta se for acompanhada de instituições fortes e cultura de responsabilidade.
🔍 Reflexão: onde estamos hoje?
Avancemos para 2025.
Portugal, outrora exemplo, é hoje uma nação novamente atolada em dívida, dependente de ajudas europeias, com um Estado hipertrofiado e ineficiente, e uma classe política muitas vezes movida por interesses próprios, e não pela res publica.
O que correu mal?
- O rigor desapareceu: a disciplina orçamental foi substituída por jogos eleitorais. Promete-se tudo e mais um voto.
- A qualidade institucional deteriorou-se: nomeações por compadrio, justiça lenta, impunidade generalizada.
- A cidadania tornou-se passiva: o povo, exausto e descrente, aceita a mediocridade como inevitável.
Portugal passou de exceção inspiradora a exemplo clássico do que Collier queria evitar.
🧭 Para onde vamos?
Ainda é possível inverter o curso? Sim, mas exige coragem e lucidez. Exige:
- Uma nova ética pública, onde servir substitua o servir-se.
- Uma reforma do Estado, focada em eficiência e resultados, não em clientelismo.
- Uma cultura de cidadania ativa, onde pensar, criticar e propor não seja visto como heresia, mas como dever.
Portugal precisa de reencontrar a força que teve nos anos 80. Não através da saudade ou do saudosismo, mas com visão estratégica, instituições sérias e um povo desperto.
✒️ Epílogo
Paul Collier viu em Portugal uma luz rara. Uma estrela a brilhar na escuridão da dívida democrática. Hoje, essa luz tremeluz, ameaçada por ventos de desgoverno e cansaço social.
Mas enquanto houver um cidadão atento, uma mente livre e um coração que ainda se indigne, essa luz pode reacender.
Cabe-nos, a todos, não permitir que Portugal seja apenas mais um entre os “milhões da pobreza”, mas sim uma exceção que renasce, mais sábia, mais forte, mais livre.
“Porque motivo os países mais carenciados do mundo estão a ficar cada vez mais pobres? Qual a verdadeira chave para o seu crscimento.”
Artigo inspirado no livro “os milhões da pobreza” do economista Paul Collier, e uma crítica à política dos governos despesistas de Portugal, pos 1990, que enveredaram por um caminho de populismo barato, e assim trouxeram Portugal de volta a maior pobreza e dependência externa.

